A apropriação da Ilíada na epopeia virgiliana
DOI:
https://doi.org/10.24277/classica.v32i1.838Palavras-chave:
Virgílio, Eneida, Homero, Ilíada, recepção.Resumo
Desde pelo menos Sérvio e Macróbio (século IV-V), costuma-se ver na estrutura da Eneida de Virgílio uma divisão em duas partes de acordo com o objeto de imitação homérico: a primeira constituiria uma espécie de Odisseia do protagonista Eneias (narrando seus errores, conforme Sérvio); a segunda, que narra gestas bélicas (de bello), sua Ilíada. Tem-se apontado que essa divisão não é estanque, havendo imitação significativa da Ilíada na primeira parte da Eneida e da Odisseia na segunda. Em 1989, num capítulo de seu Virgil’s Augustan epic, Francis Cairns, em oposição à bipartição tradicionalmente aceita pelos estudiosos, defendia que a Eneida é estruturada como uma Odisseia com momentos iliádicos; mais recentemente, em 2012, em seu Virgil’s Homeric lens, Edan Dekel apresentou uma espécie de versão mais refinada dessa interpretação, mostrando como a Ilíada comparece na Eneida mediada pela Odisseia. Neste artigo, voltaremos a essa questão para ressaltar a importância da Ilíada na epopeia virgiliana. De forma sutil (rítmica, sonora, temática), a Ilíada já ecoa na proposição da Eneida, o que é significativo; a ira de Juno ecoa, como os estudiosos têm mostrado, a de Aquiles; ao final da epopeia, intertextualmente, o leitor é levado a projetar sobre Eneias a sombra de um Aquiles raivoso: esses dois momentos-chave nos fazem refletir sobre a importância da Ilíada na apropriação de Homero por Virgílio e é esse aspecto da imitação virgiliana que destacaremos, como uma espécie de contraponto às análises que veem na Odisseia o modelo maior da Eneida.
Downloads
Referências
BARCHIESI, Alessandro. Homeric effects in Vergil’s narrative. Tradução de Ilaria Marchesi e Matt Fox. Princeton: Princeton University Press, 2015. Originalmente em italiano: La traccia del modelo. Effetti omerici nella narrazione virgiliana. Pisa: Giardini, 1984.
BOYD, Barbara Weiden. Tum pectore sensus vertuntur varii: reading and teaching of the end of the Aeneid. In: ANDERSON, William S.; QUARTARONE, Lorina N. (Ed.). Approaches to teaching Vergil’s Aeneid. New York: The Modern language Association of America, 2002, p. 80-86.
CAIRNS, Francis. Virgil’s Augustan epic. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
CAMPOS, Haroldo de. Ilíada de Homero. São Paulo: Mandarim, 2001.
CAMPS, Anthony. Lettura del primo libro dell’Eneide. In: GIGANTE, Marcello (Ed.). Lecturae vergiliane. L’Eneide. Napoli: Giannini, 1983.
CONTE, Gian Biagio (Ed.). Memoria dei poeti e sistema letterario. Palermo: Sellerio, 2012.
CONTE, Gian Biagio. P. Vergilius Maro. Aeneis. Berlin: De Gruyter, 2011.
FEDELI, Paolo (Ed.). Propertius. Stuttgart: Teubner, 1994.
FLORES, Guilherme Gontijo (Org.). Elegias de Sexto Propércio. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
GIANCOTTI, Francesco. Victor tristis. Lettura dell’ultimo libro dell’ Eneide. Bologna: Pàtron, 1993.
GRUMMOND, W. W. de. Saevus dolor: the opening and the closing of the ‘Aeneid’. Vergilius, v. 27, p. 48-52, 1981.
HARDIE, Philip R. Virgil’s Aeneid. Cosmos and imperium. Oxford: Clarendon Press, 1989.
HARRISON, Stephen. Some generic problems in Horace’s Epodes. In: CAVARZERE, Alberto; ALONI, Antonio; BARCHIESI, Alessandro (Ed.). Iambic ideas. Essays on a poetic tradition from archaic Greece to the late Roman empire. Lanham: Rowman & Littlefield, 2001, p. 172-73.
HEYWORTH, Stephen J. Cynthia. A companion to the text of Propertius. Oxford: Oxford University Press, 2009.
HOMERO. Ilíada. Tradução de Odorico Mendes. Prefácio e notas de Sálvio Nienköter. Cotia: Ateliê; Campinas: Unicamp, 2008.
JOHNSON, W. R. Darkness visible. A study of Vergil’s Aeneid. Berkeley: University of California Press, 1976.
LEVITAN, W. Give up the beginning? Juno’s mindful wrath (Aeneid 1.37). Liverpool Classical Monthly, v. 18, p. 1-15, 1993.
LYNE, R.O.A.M. Further voices in Vergil’s Aeneid. Oxford: Clarendon Press, 1992.
MARINONE, Nino (Ed.). I saturnali di Macrobio Teodosio. Torino: UTET, 1987.
MOST, Glenn W. Memory and forgetting in the Aeneid. Vergilius, v. 47, p. 148-70, 2001.
O’HARA, James. True names. Vergil and the Alexandrian tradition of etymological wordplay. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1996.
O’HARA, James. The Unfinished Aeneid? In: FARRELL, Joseph; PUTNAM, Michael C. J. (Ed.). A companion to Virgil’s Aeneid and his tradition. Malden: Wiley-Blackwell, 2010, p. 96-106.
PUTNAM, Michael. The poetry of the Aeneid. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1965.
SEIDER, Aaron M. Memory in Vergil’s Aeneid. Creating the past. Cambridge: University Press, 2013.
TARRANT, R. (Ed.). Virgil Aeneid Book XII. Cambridge: University Press, 2012.
THILO, Georg; HAGEN, Hermann (Ed.). Servii grammatici qui feruntur in Vergilii carmina commentarii. Hildesheim: Georg Olms, 1986. v. 1.
VASCONCELLOS, Paulo Sérgio de. A sound play on Aeneas’ name in the Aeneid. A brief note on VII.69. Vergilius, v. 61, p. 125-29, 2015.
VIRGÍLIO. Eneida. Traduzida por Barreto Feio e José Maria da Costa e Silva. São Paulo: Cultrix, 2004.
WEBER, Clifford. Metrical Imitation in the proem of the Aeneid. Harvard Studies in Classical Philology¸ v. 91, p. 261-71, 1987.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0) que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online após o processo editorial (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal), já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
d. Autores autorizam a cessão, após a publicação, de seu conteúdo para reprodução em indexadores de conteúdo, bibliotecas virtuais, bases de dados de acesso público e similares.