Abordagens mitológicas na iconografia funerária da cerâmica ática (510-450 A.C.): repensando a periodização

Autores

  • Fábio Vergara Cerqueira

DOI:

https://doi.org/10.24277/classica.v27i1.336

Palavras-chave:

Grécia antiga, Morte, Iconografia funerária, Mitologia, Cerâmica.

Resumo

Este artigo tem por objetivo estudar a iconogra­fia funerária registrada sobre a cerâmica ática, e, em especial, a produção do que chamamos fase intermediária (510 – 450a.C.), que tem despertado menos atenção dos estudiosos, mais voltados à compreensão do período anterior, dos alabas­tros e lutróforos de figuras negras do século VI, precipuamen­te com cenas de “velório”, ou do período posterior, dos lécitos brancos prolícromos com cena de visita ao túmulo. Aponto que, através de abordagens mitológicas, de Musas, Sereias e Eros, esta fase, que durou de duas a três gerações de pintores, apresenta uma unidade cultural, no sentido da emergência de visões alternativas da morte, ao retirar a atenção dos rituais da pólis e da família. É neste contexto que se destaca a ico­nografia destes personagens mitológicos, cuja ligação com a música determina a sua ligação com a morte. A ambivalência das Sereias corresponde a uma ambiguidade das concepções de morte que lhes eram relacionadas, oscilando entre uma vi­são ctônica, temível, no mundo inferior, e uma visão celestial, de bem-aventurança, num mundo superior. A “pitagorização” da iconografia das Sereias, como musicistas tocando lýra ou aulós, corresponde a uma expectativa mais positiva do além­-túmulo, sob a proteção das divindades musicais.  

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

BALDASSARE, I. Tomba e stelle nelle lekythoi a fondo bianco. AION 10, 107-115, 1988.

BEAZLEY, J.D. Paralipomena. Additions to Attic Black-figure

Vase-Painters and Attic Red-figured Vase-Painters. 2ª ed. Oxford: Clarendon Press, 1971.

BREMMER, J. Orpheus from Guru to Gay. In Borgeaud, Ph. (ed.) Orphisme et Orphée. En l’honneur de Jean Rukhardt. Genebra: Librairie Droz, 1991.

BOYANCÉ, P. Le culte des Muses chez les philosophes grecs. Paris:

Boccard, 1937.

BUNDRICK, S.D. Expression of harmony: Representation of female musicians in fifth-century Athenian vase painting. Michigan:

UMI – Dissertation Service, 2000 (1998).

CERQUEIRA, F. V. A música na iconografia dos lékythoi de fundo branco. Simbolismos funerários da lýra, do bárbitos e da phórminx’. In: ______. et al. Saberes e Poderes no Mundo

Antigo. Estudos ibero-latino-americanos. (Vol. I – Dos Saberes).

Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013, p. 143-172.

CERQUEIRA, F. V. A morte entre os atenienses: a pólis e a família

– conflitos deflagrados. In: BAKOS, M. M.; SILVEIRA, E. A. Vida, cotidiano e morte. Estudos sobre o Oriente Antigo e a Idade Média. Porto Alegre: Letra & Vida, 2012.

CERQUEIRA, F. V. O lugar da música nas crenças e rituais funerários da Grécia antiga. In: Cultura Clásica y su Tradición. Balance y perspectivas actuales, vol. III, Ciudad de México, Universidad Autónoma Nacional de México, Instituto de Investigaciones Filológicas, Centro de Estudios Clásicos, 2011.

CUMONT, F. Mysticisme astral dans l’Antiquité. Bulletin de l’Académie Royale de Belgique, 1909.

GROPENGIESSER, H. SängerundSirenen. AA, 582-610, 1977.

KURTZ, D. C.; BOARDMAN, J. Greek Burial Costums. Londres: Thomas and Hudson, 1971.

KURTZ, D. C. Athenian White Lekythoi. Patterns and Painters. Oxford: The Clarendon Press, 1975.

MAAS, M.; SNYDER, J.M. Stringed Instruments of Ancient Greece. Yale: Yale University Press, 1989.

MARTIN, G. Funerária, mas não funérea: reflexões sobre a arte egípcia da XVIII dinastia. In: Anais do IV Simpósio de História

Antiga e I Ciclo Internacional de História Antiga Oriental. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1990.

LISSARRAGUE, F. Un flot d’images. Une esthétique du banquet grec. Paris: Adam Brio, 1987.

MARROU, H.-I. MOUSIKOV ANHR. Études sur les scènes de la vie intellectuelle figurant sur les monuments funéraires romains. Roma: L’Erma di Bretschneider, 1964 (1938).

NORDQUIST, G. The salpinx in Greek cult. In: AHLBÄCK, T. (ed.) Dance, music, art and religion. Symposion on Dance, Music and Art in Religions, Abo, Finland, on the 16th-18th August 1994, Abo/Estocolmo, 1994.

NOCK, A.D. The lýra of Orpheus. The Classical Review 41, 1927.

ROQUE, M.L. O conceito de Mousikh na civilização grega. São Paulo: Faculdade de Filosofia do Instituto Sedes Sapientiae, s/data (dissertação, mimeo), p. 77-9.

SALMEN, W. MusizierendeSirenen. In: KRINZINGER, F.; OTTO, B.; WALDE-PSENNER, E. (Org.), Forschungenund Funde. Festschrift Bernhard Neutsch, Innsbruck, Verlag des Instituts für Sprachwissenschaften der Universität Innsbruck, 1980.

SARIAN, H. Morte e sono na arte grega: notas de iconografia funerária. Classica 7/8, 1994/1995.

SHAPIRO, H.A. The iconography of mouring in athenian art. AJA 95, 1991.

VERMEULE, E. Aspects of Death in early Greek art and poetry. Berkeley; University of California Press, 1979.

Downloads

Publicado

2014-11-03

Edição

Seção

Dossiê Temático

Como Citar

Cerqueira, F. V. (2014). Abordagens mitológicas na iconografia funerária da cerâmica ática (510-450 A.C.): repensando a periodização. Classica - Revista Brasileira De Estudos Clássicos, 27(1), 83-128. https://doi.org/10.24277/classica.v27i1.336