Lírica e tragédia em Horácio, Odes, 2.1
DOI:
https://doi.org/10.24277/classica.v36.2023.1072Palavras-chave:
Horácio; Asínio Polião; historiografia; teatro romanoResumo
O poema de Horácio Odes 2.1, dirigido ao político, historiador e poeta trágico Caio Asínio Polião, tem sido muito analisado nos últimos anos. Na maioria das vezes, os críticos seguiram a direção do comentário de Nisbet e Hubbard (1978) em busca de vestígios das Histórias perdidas de Polião e do próprio papel histórico dele (por exemplo, Henderson, 1998; Woodman, 2012), e é, de fato, claro que o poema contém um número de alusões a tópicos e estilemas historiográficos e pode relacionar-se com o proêmio perdido da obra de Polião. Este artigo olha em outra direção, seguindo a intuição de Nisbet e Hubbard de que, neste poema, “Horácio está sugerindo uma afinidade entre as tragédias de Polião e suas histórias” (1978, p. 9). Argumenta-se que a ode de Horácio alude mais extensivamente do que se imagina a tópicos estabelecidos na tragédia e, portanto, à outra parte da carreira literária de Polião, que Horácio aqui menciona com destaque (2.1.9 severae Musa tragoediae) como tendo sido interrompida em favor da escrita da história. Dada a perda de quase toda a tragédia romana pré-augustana, a partir dos textos da tragédia grega que Polião deve ter imitado até certo ponto argumenta-se que o poema de Horácio é tão repleto de tópicos trágicos quanto de material historiográfico: semelhantes referências a sangue, fogo, jogo e poeira podem ser encontradas em textos trágicos. Também se sugere que a forte ênfase no som e no espetáculo no poema, geralmente considerada parte de um estilo particularmente vívido de escrita histórica, pode estar relacionada às encenações de tragédias da época de Polião, que sabemos terem sido particularmente luxuosas e grandiosas.
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