O infanticídio à luz das emoções na Medeia de Eurípides

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24277/classica.v36.2023.1047

Palavras-chave:

infanticídio; emoções; raiva; ódio; Medeia; Eurípides.

Resumo

Neste artigo, discute-se o infanticídio cometido por Medeia na peça homônima de Eurípides a partir da representação das emoções da personagem ao longo da trama. Momentos antes do filicídio, Medeia profere um monólogo em que debate se deve prosseguir com o ato ou poupar a vida de seus filhos (1021-80). Esse momento crítico da peça já foi lido como o emblema da cisão entre razão (βούλευμα) e emoção (θυμός) que perpassaria a tragédia euripidiana. Entretanto, para compreender o que move Medeia a cometer infanticídio é necessário se ater aos seus discursos. Desse modo, com base na abordagem aristotélica das emoções e no trabalho de David Konstan (2006), argumenta-se que, em vez de ser tomada pela raiva, Medeia convence-se de que a morte de seus filhos é necessária a fim de reparar a injustiça e o dano que Jasão lhe inflige ao quebrar a φιλία outrora estabelecida pelo seu casamento.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Thais Portansky, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, Brasil

    Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas da Universidade de São Paulo com projeto sobre as afecções e as doenças da alma na prosa de Sêneca. Possui graduação em Letras (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Federal de São Paulo (2017) e mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de São Paulo (2021). 

    Lattes: http://lattes.cnpq.br/3222589018845885

    Academia.edu: https://unifesp.academia.edu/ThaisPortansky

    São Paulo, SP, Brasil. 

     

Referências

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

ARISTÓTELES. Poética. Tradução Paulo Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2015.

ARISTÓTELES. Retórica das paixões. Tradução Isis Borges B. da Fonseca. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ARISTOTLE. Aristotelis. Politica. Edição W. D. Ross. Oxford: Oxford University Press, 1957.

CAIRNS, Douglas. Medea. Feminism or Misogyny? In: STUTTARD, David (ed.). Looking at Medea. Essays and a Translation of Euripides’s Tragedy. London: Bloomsbury Publishing, 2014, p. 123-37.

CORIA, Marcela. Medea de Eurípides. El personaje y el conflicto tragico. Lecturas filosóficas. Tese (Doutorado em Humanidades e Artes) – Universidad Nacional de Rosario, Santa Fé, 2013.

EURÍPIDES. Medeia. In: Teatro Completo. Volume 1. Tradução Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2015.

EURÍPIDES. Medeia. Tradução de Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2010.

GELLIE, George. The Character of Medea. Bulletin of the Institute of Classical Studies. n. 35, p. 15-22, 1988.

GILL, Christopher. Personality in Greek Epic, Tragedy, and Philosophy. The Self in Dialogue. New York: Oxford University Press, 1996.

GOULD, John P. A. Euripides. In: HORNBLOWER, Simon; SPAWFORTH, Antony (ed.). The Oxford Classical Dictionary. 4. ed., 2. reimpr. Oxford: Clarendon Press, 2012, p. 551-53.

HAMILTON, Richard. Cries within and the Tragic Skene. The American Journal of Philology. v. 108, n. 4, p. 585-99, 1987.

HARRIS, William V. Restraining Rage. The Ideology of Anger Control in Classical Antiquity. Cambridge: Harvard University Press, 2001.

KALIMTZIS, Kostas. Taming Anger. The Hellenic Approach to the Limitations of Reason. London: Bloomsbury Publishing, 2012.

KONSTAN, David. The Eeotions of the Ancient Greeks. Studies in Aristotle and Classical Literature. Toronto: University of Toronto Press Incorporated, 2006.

LIDDELL, Henry George; SCOTT, Robert (comp.). A Greek-English Lexicon. New York: Oxford University Press, 1996.

MASTRONARDE, Donald J. Euripides Medea. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

MCCLURE, Laura. ‘The Worst Husband’. Discourses of Praise and Blame in Euripides’ Medea. Classical Philology. v. 94, n. 4, p. 373-94, 1999.

SANDERS, Ed. Sexual Jealousy and Erôs in Euripides’ Medea. In: SANDERS, Ed; THUMIGER, Chiara; CAREY, Christopher; LOWE, Nick J. (ed.). Erôs in Ancient Greece. Oxford: Oxford University Press, 2013, p. 41-58.

SEAFORD, Richard. The Structural Problems of Marriage in Euripides. In: POWELL, Anton (ed.). Euripides, Women, and Sexuality. New York: Routledge, 1990, p. 151-76.

SEIDENSTICKER, Bernd. Character and Characterization in Greek Tragedy. In: REVERMANN, Martin; WILSON, Peter (ed.). Performance, Iconography, Reception. Studies in Honor of Oliver Taplin. New York: Oxford University Press, 2008, p. 333-46.

SOUSA, Ana Alexandra Alves. El θυμός en Eurípides y la peripecia trágica. In: RODRIGUES, María Teresa Amado; VILLARO, Begoña Ortega; SILVA, Maria de Fátima Sousa (coord.). Clásicos en escena ayer y hoy. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2019, p. 17-31.

TEDESCHI, Gennaro. Commento alla Medea di Euripide. Trieste: Università degli Studi di Trieste, 2010.

TORRANO, Jaa. Medeia - a serviço da justiça e da piedade na tragédia Medeia de Eurípides. Anais de Filosofia Clássica. v. 12, n. 23, p. 1-12, 2018.

VAN EMDE BOAS, Evert. Euripides. In: DE TEMMERMAN, Koen; VAN EMDE BOAS, Evert (ed.). Characterization in Ancient Greek Literature. Leiden: Brill, 2017, p. 355-74.

WYLES, Rosie. Staging Medea. In: STUTTARD, David (ed.). Looking at Medea. Essays and a Translation of Euripides’s Tragedy. London: Bloomsbury Publishing, 2014, p. 47-63.

Downloads

Publicado

2023-07-13

Como Citar

Portansky, T. (2023). O infanticídio à luz das emoções na Medeia de Eurípides. Classica - Revista Brasileira De Estudos Clássicos, 36, 1-18. https://doi.org/10.24277/classica.v36.2023.1047