Uma visão periegemática sobre a écfrase

Autores

  • Paulo Martins Professor Livre-Docente de Literatura Latina da Universidade de São Paulo. Pesquisador do CNPq. Visiting Fellow na Yale University (2013-14) e Visiting Professor no King’s College London (2012). http://orcid.org/0000-0002-2321-1033

DOI:

https://doi.org/10.24277/classica.v29i2.425

Palavras-chave:

Visualidade, écfrase, enargia, Progymnásmata, retórica, poética.

Resumo

Opero neste artigo três objetivos. Primeiramente, ofereço um panorama sobre a teorização antiga e moderna da écfrase, apresentando elementos que a caracterizam como procedimento retórico-poético a serviço da elocução e da argumentação, ou modernamente a serviço da descrição de uma obra artística – Kunstbeschreibung. Em segundo lugar, apresento como as écfrases, em seu matiz antigo, podem ser apresentadas ora como um elemento da narração que a contém como narrativa – interventive ekphrasis de acordo com Elsner (2002) –, operando especificidades intrínsecas como procedimento contido num gênero continente e a ele subordinado; ora como essas podem apresentar características extrínsecas, como gênero independente, autônomo e isolado em que não estão sujeitas à subordinação argumentativa ou figurativa do gênero, já que são self-standing. O terceiro objetivo, corolário dos dois iniciais, é extrair da observação desses dois tipos de écfrase aquela que serve a um gênero – a que chamo hipotática – e aquela que pode ser entendida como gênero – a que nomeio como paratática –, como suas séries históricas, dependentes de um gênero que as contenha, ou dele independentes, engendram sentidos que podem ser articulados e aferidos a partir de um todo unificador que pode ser, por exemplo, a série de escudos (Homero, Hesíodo, Virgílio, Sílio Itálico) ou a série de descrições presentes numa coleção de écfrases, imagines ou εἰκόνες, (de Filóstrato, o velho e o jovem, e Calístrato) que devem ser observadas em conjunto a formar um todo. Em ambos os casos, uma τάξις ou ordo, acredito, imprime às peças particulares sentidos advindos de uma sintaxe “extra ou intragenérica”, que lhes confere sentido próprio.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

AMATO, R. S. S. Amores e outras imagens de Filostrato. São Paulo: Fundação Bienal; Hedra, 2012.

BAGOLIN, L. Ékphrasis no Segundo Comentário de Lorenzo Ghiberti. Letras Clássicas, v. 18, n. 1, p. 51-72, 2014. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v18i1p51-72.

BAILLY, A. Dictionnaire Grec-Français. Paris: Hachette, 1984.

BAL, M. Narratology: Introduction to the Theory of Narrative. 3rd ed. Toronto: University of Toronto Press, 2009.

BARBETTI, C. Ekphrastic Medieval Visions: A New Discussion in Interarts Theory. New York: Palgrave Macmillan, 2011.

BARTH, V. F. O Canto I das Argonáuticas de Apolônio de Rodes. 2013. Dissertação (Mestrado) –UFPR, Curitiba, 2013.

BARTHES, R. “L’effet de reel” in Communications, 11. Recherches sémiologiques le vraisemblable: 84-9, 1968. DOI: 10.3406/comm.1968.1158. Acesso em: 21 jan. 2017.

BECKER, E. Paulus Salentiarius Descriptio S. Sophiae et Ambonis. Ex Recognitione Immanuelis Bekkeri in Nierbuhrii, B. G. Corpus Scriptorum Historiae Byzantinae: 3-48, 1837.

BENEDIKTSON, D. T. Literature and the Visual Arts in Ancient Greece and Rome. Norman: University of Oklahoma Press, 2000.

BERTRAND, E. Un Critique d’art dans l’antiquité: Philostrate et son école. Paris: E. Thorin, 1882.

BORGES, J. L. “Del rigor en la ciencia” in Historia universal de la infamia, 1946.

BOUGOT, A. Philostrate l’ancien: une galérie antique. Paris: Librairie Renouard, 1881.

BOWIE, E. Philostratus: The Life of a Sophist. In: BOWIE, E.; ELSNER, J. (eds.). Philostratus. Cambridge: Cambridge University Press, 2009, p. 19-32.

BOWIE, E.; ELSNER, J. (eds.). Philostratus. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

BRADLEY, M. Colour as Synaesthetic experience in Antiquity. In: BUTLER, S.; PURVES, A. (eds.). Synaesthesia and the Ancient Senses. Durhan: Acumen, 2013, p. 127-90.

CALVINO, I. Por que Ler os Clássicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1994.

CHINN, C. Before Your Very Eyes: Pliny Epistulae 5.6 and the Ancient Theory of Ekphrasis. CPh, v. 102, n. 3, p. 265-80, 2007. DOI:10.1086/529472.

COSTA E SILVA, B. A narrativa da écfrase no Idílio I de Teócrito e na Europa de Mosco. In: RODRIGUES, F. et alii. Helenismo. São Paulo: Humanitas, 2016, p. 115-29.

DIBBERN, C. O escudo de Aníbal: Punica 2.395-456. Letras Clássicas, v. 18, n. 1, p. 127-37, 2014. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v18i1p127-137.

DUARTE, A. Cena e cenografia no Íon de Eurípides. Letras Clássicas, v. 18, n. 1, p. 35-50, 2014. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v18i1p35-50.

DUBEL, S. Ekphrasis et enargeia: la description antique comme percurs. In: LÉVY, C.; PERNOT, L. (org.). Dire l’Evidence. Paris: L’ Harmattan, 1997, p. 249-64.

ELSNER, J. The Genres of ekphrasis. In: ELSNER, J. (ed.). The Verbal and the Visual: Cultures of Ekphrasis in Antiquity. Ramus, v. 31, p. 1-18, 2002. DOI: 10.1017/S0048671X00001338.

ELSNER, J. A Protean Corpus. In: BOWIE E.; ELSNER J. (eds.). Philostratus. Cambridge: Cambridge University Press, 2009, p. 3-18.

FELTEN, J. (ed.) Nicolai Progymnasmata. Leipzig: Teubner, 1913. [Rhetores Graeci 11].

FOWLER, D. Narrate and Describe: The Problem of Ekphrasis. JRS, v. 81, p. 25-35, 1991. DOI:10.2307/300486.

FRIEDLAENDER, P. Johannes von Gaza und Paulus Silentiarius: Kunstbeschreibungen justinianischer Zeit. Leipzig: Teubner [=Nachdruck: Hildesheim 1969], 1912.

GENETTE, G. Figures of Literary Discourse. Trans. A. Sheridan. New York: Columbia University Press, 1982.

GIBSON, C. A. Libanius’s progymnasmata: model exercises in Greek prose composition and rhetoric. Translated with an introduction and notes by C. A. Gibson. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2008.

GOLDHILL, S. What Is Ekphrasis For? CPh, v. 102, n. 1, p. 1-19, 2007.

HALM, K. Praeexercitamina Priciani Grammatici ex Hermogene versa. In: Rhetores Minores. Lipsiae: in aedibus B. G. Teubneri, 1863, p. 551-60.

HANSEN, J. A. Categorias epidíticas da ekphrasis. Revista USP, v. 71, p. 85-105, 2006.

HARDEN, S. J. Eros Through the Looking-Glass? Erotic Ekphrasis and Narrative Structure in Moschus’ Europa. Ramus, v. 40, n. 2, p. 87-105, 2011. DOI: 10.1017/S0048671X00000357.

HARLOE, K. Allusion and ekphrasis in Winckelmann’s. Paris description of the Apollo Belvedere. CCJ, v. 53, p. 229-52, 2007.

HEFFERNAN, J. A. Ekphrasis and Representation. New Literary History, Roblings: Art, Criticism, Genre, v. 22, n. 2, p. 297-316, 1991.

KENNEDY, G. A. Progymnasmata. Greek Textbooks of Prose Composition and Rhetoric. Aelius Theon; Hermogenes; Aphtonius The Sophist; Nicolaus The Sophist. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2003.

KOELB, J. H. The poetics of description: imagined places in European literature. New York; Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2006.

KOSSOVITCH, L. La Descontinuité dans l’Histoire de l’Art. In: GALARD, J. (org.). Ruptures: de la Descontinuité dans la Vie Artistique. Paris: École Nationale Supérieure des Beaux-Arts/Musée du Louvre, 2002, p. 303-39.

KRIEGER, M. Ekphrasis and the Still Movement of Poetry; or, Laokoön Revisited. In: McDOWELL, F. P. W. (ed.). The Poet as Critic. Evanston. The Play and Place of Criticism. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1967, p. 263-88.

LAUSBERG, H. Elementos de Retórica Literária. Tradução, prefácio e aditamentos de R. M. Rosado Fernandes. 2. ed. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1972.

LAUSBERG, H. Manual de Retórica Literaria. v. I-III. Versión española de José Pérez Riesco. Madrid: Gredos, 1991.

LS – Lewis, C. T.; SHORT, C. A Latin Dictionary. Oxford: At Clarendon Press, 1987.

LSJ – Lidell, H. G.; SCOTT, R.; JONES, H. S. A Greek-English Lexicon. Oxford: At Clarendon Press, 1977.

LOURENÇO, F. Odisseia. Homero. São Paulo: Cia. das Letras, 2011.

LOURENÇO, F. Ilíada. Homero. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.

LUKACS, G. Writer and Critic and other Essays. Trans. A. Kahn. London: Merlin, 1978.

MACRIDES, R.; Magdalino, P. The architecture of ekphrasis: construction and context of Paul the Silentiary’s poem on Hagia Sophia. BMGS, v. 12, p. 47-82, 1988.

MASON, H. C. Jason’s Cloak and the shield of Heracles. Mnemosyne, v. 69, p. 183-201, 2016. DOI: 10.1163/1568525X-12341830.

MARTINHO, M. À propos des différences entre les Praeexercitamina de Priscien et les Progymnasmata du Ps.-Hermogène. In: BARATIN, M.; COLOMBAT, B.; HOLTZ, L. (eds.). Priscien: Transmission et refondation de la grammaire, de l’antiquité aux modernes. Turnhout: Brepols Publishers, [Studia Artistarum, 21], 2009, p. 395-410.

MARTINHO, M. Acerca das Diferenças Doutrinais entre os Praeexercitamina de Prisciano e os Progymnásmata do Ps.-Hermógenes. In: FLORES-JÚNIOR, O.; MARTINHO, M.; RENNÓ ASSUNÇÃO, T. (org.). Ensaios de retórica antiga. Belo Horizonte: Tessitura, 2010, p. 269-89.

MARTINS, P. Eneias se reconhece. Letras Clássicas, v. 5, n. 1, p. 143-157, 2001. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v0i5p143-157 [= Martins (2013, p. 48-68)].

MARTINS, P. Desafios da Écfrase. In: RODOLPHO, M. Écfrase e Evidência nas Letras Latinas: Doutrina e Práxis. São Paulo: Humanitas, 2012, p. 13-23.

MARTINS, P. Pictura tacens, poesis loquens. Limites da Representação. Tese (Livre-Docência) – Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo, 2013.

MARTINS, P. Odisseia 7.79-135: uma ἔκφρασις”. Letras Clássicas, v. 18, n. 1, p. 19-34, 2014. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v18i1p19-34 [= Martins (2013, p. 32-46)].

MARTINS, P. Vertentes do retrato romano no final da República e no início do Principado. Cadernos de Pesquisa Histórica, Uberlândia, UFU, v. 27, n. 2. p. 13-38, 2014b.

MATTIACCI, S. Quando L’immagine ha Bisogno della Parola: Riflessioni sulla Poetica dell’ekphrasis nell’epigramma latino. Prometheus, v. 39, p. 207-26, 2013.

MERRIAM, C. U. An Examination of Janson’s Cloak (Apollonius Rhodius, Argonautica 1.730-68). Scholia, v. 2, p. 69-80, 1993.

NICOLAI, R. L’ekfrasis, Una Tipologia Compositiva dimenticata dalla Critica Anticae dalla Moderna. Aion (filol.), v. 31, p. 29-45, 2009.

NOGUEIRA, É. Verdade, contenda e poesia nos Idílios de Teócrito. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. DOI:10.11606/T.8.2012.tde-06112012-125428. Recuperado em 2016-12-20, de www.teses.usp.br.

NUNES, C. A. Eneida. Virgílio. Organizada por João Angelo Oliva Neto. São Paulo: 34 Editora, 2013.

OLD – Glare, P. G. W. Oxford Latin Dictionary. Oxford: At Clarendon Press, 2006.

OLIVA NETO, J. A. Écfrase da Vila de Plínio na Túscia (Plínio, o Jovem, Livro 5, Epístola 6: comentário, tradução e notas). Letras Clássicas, v. 19, n. 1, p. 181-95, 2015. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v19i1p181-195.

ORTEGA, N. R. “Ut Pictura Poesis”: Ekphrasis in the Seventeenth Century. In: BACA, M.; ORTEGA, N. R. (orgs.). Pietro Mellini’s Inventory in Verse, 1681, 2016. http://www.getty.edu/research/mellini/essay/ekphrasis. Acesso em: 27 dez. 2016.

PATILLON, M.; BOLOGNESI, G. (eds.). Aelius Théon, Progymnasmata. Éd. Patillon, M. et Bolognesi, G. Paris: Les Belles Lettres, 1997.

PAYNE, M. Ecphrasis and Song in Theocritus’ Idyll 1. GRBS, v. 42, p. 263-87, 2001.

PETERS, F. E. Termos Filosóficos Gregos. Trad. Beatriz Rodrigues Barbosa. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977.

PUTNAM, M. C. J. Virgil’s Epic Designs. Ekphrasis in the Aeneid. New Haven: Yale University Press, 1998.

RABE, H. (ed.). Hermogenis opera. Hermogenes Rhet., Progymnasmata. Leipzig: Teubner, 1969.

RLM – Halm, K. Rhetores Latini Minores. Ex Codicibus Maximam Partem Primum Adhibitis. Emendabat Carolus Halm. Lipsiae: In Aedibus B. G. Teubneri, 1863.

RODOLPHO, M. Écfrase e Evidência nas Letras Latinas: Doutrina e Práxis. São Paulo: Humanitas, 2012.

RODOLPHO, M. Écfrase e evidência. Letras Clássicas, v. 18, n. 1, p. 94-113, 2014. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v18i1p94-113.

ROSAND, D. Ekphrasis and the Generation of Images. Arion, v. 1, n. 1, p. 61-105, 1990.

SEBASTIANI, B. B. História Pragmática de Políbio. Tradução dos Livros I-VI. Introdução e Notas. São Paulo: Perspectiva, 2016.

SHAPIRO, H. A. Jason’s Cloak. TAPhA, v. 110, p. 263-86, 1980.

SOARES, M. T. M. Ekphrasis e Enargeia na Historiografia de Tucídides e no Pensamento Filosófico de Paul Ricoeur. Talia Dixit, v. 6, p. 1-23, 2011.

SPENGEL, L. (ed.). Rhetores Graeci, vol. 2. Aelius Theon Rhet., Progymnasmata. Leipzig: Teubner, 1966.

SPITZER, L. The “Ode on a Grecian Urn,” or Content vs. Metagrammar. Comparative Literature, v. 7, n. 3, p. 203-25, 1955. DOI:10.2307/1768227.

SQUIRE, M. Ecphrasis: Visual and Verbal Interactions in Ancient Greek and Latin Literature. In: Oxford Handbooks Online. Scholary Research Reviews, 2015. DOI: 10.1093/oxfordhb/9780199935390.013.58.

STEWART, P. Statues in roman society. Representation and response. Oxford: Oxford University Press, 2003.

SWAIN, S. Culture and nature in Philostratus. In: BOWIE, E.; ELSNER, J. (eds.). Philostratus. Cambridge: Cambridge University Press, 2009, p. 33-48.

TORRANO, Jaa. O escudo de Héracles de Hesíodo. Tradução de Jaa Torrano, segundo o texto de F. Solmsen. Hypnos, v. 5/6, p. 185-221, 2000.

WERNER, E. Imagens tecidas em verso: A representação do mito de Ariadne no carmen LXIV de Catulo. Letras Clássicas, v. 19, n. 1, p. 162-80, 2016. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v19i1p162-180.

WHITBY, M. The occasion of Paul the Silentiary’s Ekphrasis of S. Sophia. CQ, v. 35, n. 1, p. 215-28, 1985. DOI: 10.1017/S0009838800014695.

ZANCHETTA, R. Écfrase como exemplo de pintura. Letras Clássicas, v. 18, n. 1, p. 114-126, 2014. DOI: 10.11606/issn.2358-3150.v18i1p114-126

ZEITLIN, F. I. Figure: Ekphrasis. Greece & Rome, v. 60, p. 17-31, 2013. DOI:10.1017/S0017383512000241.

Downloads

Publicado

2016-12-30

Edição

Seção

Artigos de Revisão

Como Citar

Martins, P. (2016). Uma visão periegemática sobre a écfrase. Classica - Revista Brasileira De Estudos Clássicos, 29(2), 163-204. https://doi.org/10.24277/classica.v29i2.425