Instrumento de Pesquisa
(Des)caminhos dos clássicos abaixo dos trópicos: primeiros resultados
(Mis)paths of the classics below the tropics: the initial results
(Des)caminhos dos clássicos abaixo dos trópicos: primeiros resultados
Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, vol. 37, pp. 1-19, 2024
Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos
Recepción: 05 Julio 2024
Aprobación: 08 Agosto 2024
Resumo: Nosso objetivo, com esta nota de pesquisa, é comunicar os primeiros resultados do projeto de pesquisa “(Des)caminhos dos clássicos abaixo dos trópicos: produção e circulação de edições de obras clássicas no Brasil”. Esta nota foi organizada essencialmente em duas partes. Na primeira, apresentaremos brevemente as etapas previstas de nosso projeto de pesquisa e a documentação utilizada como fonte de informação primária. Na segunda parte, exibiremos os primeiros resultados de nosso trabalho de investigação. Além das fontes primárias, utilizamos as seguintes obras como ferramenta teórica: Febvre; Martin (1958); Eisenstein (1983); McKenzie (1986); Chartier (1995); Johns (1998), Villalta (1999), Martins (2001), Abreu (2003), Abecasis (2009) e Vianna (2019).
Palavras-chave: Difusão dos clássicos no Brasil, Real Mesa Censória, Censura portuguesa.
Abstract: Our objective with this research note is to communicate the initial results of the research project “(Mis)paths of the Classics below the Tropics: Production and Circulation of Editions of Classical Works in Brazil.” This note is essentially organized into two parts. In the first part, we will briefly present the planned stages of our research project and the documentation used as primary sources of information. In the second part, we will showcase the initial results of our investigative work. In addition to primary sources, we have utilized the following works as theoretical tools: Febvre; Martin (1958); Eisenstein (1983); McKenzie (1986); Chartier (1995); Johns (1998), Villalta (1999), Martins (2001), Abreu (2003), Abecasis (2009) and Vianna (2019).
Keywords: Diffusion of the Classics in Brazil, Real Mesa Censória, Portuguese Censorship.
Nosso objetivo, com esta nota de pesquisa, é comunicar os primeiros resultados do projeto de pesquisa “(Des)caminhos dos clássicos abaixo dos trópicos: produção e circulação de edições de obras clássicas no Brasil”,1 integrante da linha “Estudos sobre Materialidade de Livros Relacionados às Letras Clássicas” do grupo de pesquisa “Núcleo de Estudos Clássicos da Fundação Biblioteca Nacional”.2 Essencialmente, o referido projeto visa a pesquisar a difusão de autores gregos e latinos no Brasil por meio da circulação de livros, sejam enviados de Portugal, durante o Período Colonial, sejam impressos em território brasileiro a partir da implementação da imprensa no início do século XIX.
Em linhas gerais, buscaremos responder os seguintes questionamentos: 1) Quem eram os editores, impressores, vendedores e leitores de edições de obras clássicas, levando-se em consideração sua classe social, gênero, raça e nível de instrução?; 2) Em que medida essas edições nos ajudam a observar a leitura de obras clássicas enquanto prática que se transformou ao longo do tempo e refletiu mudanças nas normas culturais, tecnológicas e sociais?; 3) A materialidade dessas edições afetou a maneira como os leitores interpretavam, criticavam e se apropriavam das obras clássicas?; 4) Quais eram os custos de produção, distribuição e acesso dessas edições?; 5) Como se dava a disseminação dessas edições no Brasil?. Para tal, além das fontes primárias, utilizamos as seguintes obras como ferramenta teórica: Febvre; Martin (1958); Eisenstein (1983); McKenzie (1986); Chartier (1995) e Johns (1998).
Esta nota de pesquisa foi organizada em duas partes. Na primeira, apresentaremos brevemente as etapas previstas de nosso projeto de pesquisa e a documentação utilizada no momento como fonte primária, a saber, o Fundo Real Mesa Censória (RMC), do Arquivo Nacional Torre do Tombo, localizado em Lisboa (Portugal), narrando, ainda, um pouco da sua história. Além disso, trataremos do recorte desse conjunto de documentos com que trabalhamos até o presente momento e da metodologia empregada para lidar com essa documentação. Na segunda parte, exibiremos os primeiros resultados de nosso trabalho de investigação.
1 Nosso projeto de pesquisa, documentação utilizada, sua história e metodologia de trabalho
Nosso projeto de pesquisa estrutura-se em duas grandes etapas. Na primeira, já em curso desde o segundo semestre de 2023, investigamos apenas quais autores gregos e latinos, com suas respectivas obras, se difundiram em território brasileiro a partir do envio de livros por pessoas situadas em Portugal. Na segunda etapa, passaremos a analisar as edições de obras clássicas já impressas no Brasil,3 sem deixar de lado aquelas que ainda eram enviadas de Portugal. Quanto à primeira etapa, utilizamos como fonte primária, no momento, o Fundo Real Mesa Censória, depositado no Arquivo Nacional Torre do Tombo (Portugal).
A Real Mesa Censória (RMC) foi uma instituição portuguesa criada em 1768, sob o reinado de D. José I (r. 1750-1777), para fiscalizar a publicação e a circulação de obras em todo o território governado pela Coroa portuguesa. Posteriormente, passou a ser de sua responsabilidade, também, aprovar ou reprovar a circulação de livros em território português, assim como controlar, por meio de requerimentos, a saída e a entrada deles no país. A necessidade de se criar uma instância voltada para a censura estava ligada à ideia de manutenção da ordem no reino, que mantivesse, entre outras questões averiguadas por Graça Almeida Rodrigues (1980),4 o zelo pela religião e pelo bem público da Pátria, pois, segundo seus idealizadores, existiam obras capazes de corromper a organização do país. O fundo arquivístico produzido ao longo das atividades da RMC foi incorporado, em 1841, ao Arquivo Nacional Torre do Tombo, uma das mais antigas organizações documentárias do patrimônio lusófono, e apresenta as seguintes seções ou séries: 1) Administração Geral e Expediente (1768/1831), 2) Secretaria da Censura (1641/1848), 3) Administração dos Estudos Menores (1778/1818).
Desde a criação da RMC até a Independência do Brasil, livros enviados de Portugal para a colônia brasileira deveriam passar pela fiscalização da censura daquela instituição. O primeiro procedimento a ser feito por quem desejasse enviar livros para o Brasil era submeter um requerimento à RMC, fornecendo informações como localidade, motivo e lista de livros a serem remetidos. Esses requerimentos, que exploramos parcialmente até o presente momento, eram redigidos por editores, impressores, livreiros que queriam comercializar livros ou por pessoas que pretendiam viajar para o Brasil, transportando seus livros e, até, bibliotecas inteiras. Tal expediente de controle gerou uma grande quantidade de documentos que nos permite hoje ter alguma noção da circulação de livros durante o período e, em nosso caso, da difusão de autores gregos e latinos. Além dos requerimentos, o fundo da RMC integra outros documentos importantes para nosso projeto de pesquisa como: processos de censura; obras examinadas pela Mesa; licenças, avisos, ordens e provisões; registro dos censores e obras que lhes cabia examinar; registro de livros entregues ao secretário para serem revistos; registro das bulas pontifícias proibindo livros e breves de licença de posse; e um conjunto de genealogias manuscritas.
Vale salientarmos que parte desses requerimentos encontra-se digitalizada no site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo5 e abrange os livros enviados para o Rio de Janeiro, Bahia, Pará, Maranhão e Pernambuco. Até agora, trabalhamos apenas com esses itens documentais, restando ainda explorarmos os requerimentos de livros enviados para Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Rio Grande e São Paulo, que dependem da pesquisa presencial no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Muito embora essas fontes de informação nos situem quanto aos autores e obras clássicas difundidos no Brasil somente durante o período de atuação da RMC, o referido fundo inclui ainda catálogos de bibliotecas particulares, que deveriam ser entregues à RMC para inspeção pelas autoridades censórias, devido ao decreto do Marquês de Pombal de 1769. Essa documentação, complementar aos requerimentos, possibilitar-nos-á apurar quais livros já se encontravam em circulação no Brasil antes de a RMC começar a atuar e proporcionar-nos-á uma visão mais abrangente de autores e obras clássicas difundidos no Período Colonial brasileiro.
Com relação à metodologia de utilização das fontes documentais, nosso primeiro procedimento é identificar os requerimentos que contêm nomes de autores e/ou títulos de obras gregas e latinas. Uma vez localizados esses dados num determinado requerimento, classificamo-lo como positivo para nossa pesquisa e passamos a estruturar, em tabelas de Excel, as seguintes informações:
1) Requerimento: código de controle interno nosso, atribuído pela equipe, levando-se em consideração o conjunto documental da localidade, e.g., Rio de Janeiro, Bahia etc.;
2) Imagens: rótulos de todas as imagens que correspondem a um determinado requerimento no site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo;
3) Autores clássicos: presença ou ausência de nomes de autores gregos e latinos;
4) Requerente: nome do autor do requerimento tal como se encontra grafado no documento;
5) Data: dia, mês e ano do requerimento tanto positivo quanto negativo;
6) Autores requeridos: nomes dos autores clássicos solicitados no requerimento padronizado para facilitar a pesquisa e localização da informação;
7) Transcrição: transcrição dos dados tal como se encontram grafados no requerimento, abrangendo, a depender do documento, título de obras,6 local e ano de impressão do livro, características físicas suas, quantidade de itens etc.;
8) Link: URL de acesso às informações do conjunto documental em que se encontra o requerimento no site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
No layout final da tabela, os requerimentos positivos ficam em verde, e os negativos em vermelho.
2 Primeiros resultados do nosso projeto
Uma vez apresentadas a documentação e a metodologia adotada para o trabalho com os requerimentos de envio de livros para Bahia, Maranhão, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro, passaremos a divulgar os primeiros resultados. Salientamos que, no estado atual da pesquisa, procedemos apenas à coleta de informações a partir da referida documentação, sem qualquer preocupação com análises e interpretações, uma vez que será necessário ainda coletar dados de requerimentos cuja pesquisa é realizável apenas presencialmente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Dessa forma, ficarão para uma próxima nota os dados coletados dos requerimentos de envio de livros para Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Rio Grande e São Paulo.
Total dos cinco estados
Datas-limite da documentação: 20 fev. 1769 – 23 dez. 1826.
2.107 requerimentos no total.
577requerimentos positivos (27,38%).
139requerimentos contendo nomes de autores gregos (24,09%): Anacreonte (5 = 0,87%), Aristóteles (5 = 0,87%), Bíon (1 = 0,17%), Demóstenes (3 = 0,52%), Dioniso de Helicarnasso (1 = 0,17%), Epicteto (2 = 0,35%), Esopo (49 = 8,49%), Ésquines (1 = 0,17%), Euclides (14 = 2,43%), Eurípedes (11 = 1,91%), Heródoto (1 = 0,17%), Hesíodo (1 = 0,17%), Hipócrates (1 = 0,17%), Homero (27 = 4,68%), Jâmblico (1 = 0,17%), Licurgo (1 = 0,17%), Longino (12 = 2,08%), Luciano (12 = 2,08%), Lysias (1 = 0,17%), Mosco (1 = 0,17%), Píndaro (6 = 1,04%), Platão (7 = 1,21%), Plutarco (14 = 2,43%), Políbio (1 = 0,17%), Safo (1 = 0,17%), Sófocles (2 = 0,35%), Teócrito (2 = 0,35%), Teofrasto (1 = 0,17%), Tucídides (1 = 0,17%), Xenofonte (1 = 0,17%).
523requerimentos contendo nomes de autores latinos (90,64%): Acílio Severo (1 = 0,17%), Apuleio (1 = 0,17%), Aulo Gélio (2 = 0,35%), Ausônio (1 = 0,17%), Catão (2 = 0,35%), Catulo (3 = 0,52%), Cícero (250 = 43,33%), Cipriano (1 = 0,17%), Claudiano (2 = 0,35%), Cláudio Eliano (1 = 0,17%), Columela (1 = 0,17%), Cornélio Nepos (103 = 17,85%), Estácio (3 = 0,52%), Eutrópio (81 = 14,04%), Fedro (139 = 24,09%), Flávio Josefo (1 = 0,17%), Floro (8 = 1,39%), Frontino (1 = 0,17%), Gaio Júlio Solino (1 = 0,17%), Horácio (256 = 44,37%), Júlio César (16 = 2,77%), Justiniano (2 = 0,35%), Justino (6 = 1,04%), Juvenal (7 = 1,21%), Juvenco (1 = 0,17%), Lactâncio (2 = 0,35%), Lucano (5 = 0,87%), Lucrécio (3 = 0,52%), Manílio (1 = 0,17%), Marcial (4 = 0,69%), Ovídio (184 = 31,89%), Paládio (1 = 0,17%), panegiristas (1 = 0,17%), Pérsio (4 = 0,69%), Petrônio (2 = 0,35%), Plauto (5 = 0,87%), Plínio (10 = 1,73%), Propércio (4 = 0,69%), Quintiliano (121 = 20,97%), Quinto Cúrcio (16 = 2,77%), Salústio (73 = 12,65%), Sêneca (5 = 0,87%), Septímio Aurélio (1 = 0,17%), Sírio Itálico (2 = 0,35%), Suetônio (20 = 3,47%), Sulpício (3 = 0,52%), Tácito (9 = 1,56%), Terêncio (114 = 19,76%), Tertuliano (1 = 0,17%), Tibulo (5 = 0,87%), Tito Lívio (119 = 20,62%), Varrão (1 = 0,17%), Valério Flaco (1 = 0,17%), Veleio Patérculo (3 = 0,52%), Virgílio (225 = 38,99%), Vitrúvio (3 = 0,52%).
BAHIA
Datas-limite da documentação: 20 fev. 1769 – 18 jan. 1822.
559requerimentos no total.
199requerimentos positivos (35,59%).
29requerimentos contendo nomes de autores gregos (14%): Anacreonte (3 = 1,51%), Aristóteles (1 = 0,50%), Demóstenes (2 = 1,01%), Dioniso de Helicarnasso (1 = 0,50%), Esopo (10 = 5,03%), Ésquines (1 = 0,50%), Euclides (1 = 0,50%), Eurípedes (3 = 1,51%), Hipócrates (1 = 0,50%), Homero (17 = 8,54%), Jâmblico (1 = 0,50%), Licurgo (1 = 0,50%), Longino (4 = 2,01%), Luciano (1 = 0,50%), Lysias (1 = 0,50%), Platão (1 = 0,50%), Plutarco (2 = 1,01%), Safo (1 = 0,50%), Teócrito (1 = 0,50%), Xenofonte (1 = 0,50%).
194requerimentos contendo nomes de autores latinos (97%): Acílio Severo (1 = 0,52%), Apuleio (1 = 0,52%), Aulo Gélio (2 = 1,03%), Ausônio (1 = 0,52%), Catão (1 = 0,52%), Catulo (3 = 1,55%), Cícero (119 = 61,34%), Claudiano (2 = 1,03%), Cláudio Eliano (1 = 0,52%), Columela (1 = 0,52%), Cornélio Nepos (59 = 30,41%), Estácio (3 = 1,55%), Eutrópio (47 = 24,23%), Fedro (60 = 30,93%), Flávio Josefo (1 = 0,52%), Floro (4 = 2,06%), Frontino (1 = 0,52%), Gaio Júlio Solino (1 = 0,52), Horácio (108 = 55,67%), Júlio César (7 = 3,61%), Justino (4 = 2,06%), Juvenal (2 = 1,03%), Juvenco (1 = 0,52%), Lactâncio (2 = 1,03%), Lucano (3 = 1,55%), Lucrécio (2 = 1,03%), Manílio (1 = 0,52%), Marcial (4 = 2,06%), Ovídio (80 = 41,23%), Paládio (1 = 0,52%), panegiristas (1 = 0,52%), Pérsio (3 = 1,55%), Petrônio (2 = 1,03%), Plauto (2 = 1,03%), Plínio (3 = 1,55%), Propércio (3 = 1,55%), Quintiliano (50 = 25,77%), Quinto Cúrcio (5 = 2,58%), Salústio (55 = 28,35%), Sêneca (3 = 1,55%), Septímio Aurélio (1 = 0,52%), Sírio Itálico (2 = 1,03%), Suetônio (9 = 4,64%), Sulpício (2 = 1,03%), Tácito (5 = 2,58%), Terêncio (71 = 36,60%), Tibulo (5 = 2,58%), Tito Lívio (91 = 46,91%), Varrão (1 = 0,52%), Valério Flaco (1 = 0,52%), Veleio Patérculo (2 = 1,03), Virgílio (96 = 49,48%), Vitrúvio (3 = 1,55%).
MARANHÃO
Datas-limite da documentação: 04 set. 1773 – 30 mai. 1826.
324requerimentos no total.
68requerimentos positivos (29,98%).
22requerimentos contendo nomes de autores gregos (32,35%): Aristóteles (1 = 1,47%), Esopo (10 = 14,71%), Euclides (5 = 7,35%), Luciano (1 = 1,47%), Platão (2 = 2,94%).
57requerimentos contendo nomes de autores latinos (83,82%): Cícero (24 = 35,29%), Cornélio Nepos (8 = 11,76%), Eutrópio (9 = 13,24%), Fedro (21 = 30,88%), Horácio (25 = 36,76%), Júlio César (1 = 1,47%), Justiniano (2 = 2,94%), Ovídio (24 = 35,29%), Quintiliano (4 = 5,88%), Salústio (1 = 1,47%), Terêncio (3 = 4,41%), Tito Lívio (2 = 2,94%), Virgílio (29 = 42,65%).
PARÁ
Datas-limite da documentação: 02 dez. 1790 – 22 ago. 1826.
164requerimentos no total.
32requerimentos positivos (19,51%).
4 requerimentos contendo nomes de autores gregos (12%): Aristóteles (1 = 3,12%), Esopo (2 = 6,25%), Plutarco (1 = 3,12%).
30requerimentos contendo nomes de autores latinos (93,75%): Cícero (18 = 56,25%), Cornélio Nepos (13 = 40,62%), Eutrópio (5 = 15,62%), Fedro (12 = 37,5%), Horácio (15 = 46,87%), Júlio César (1 = 3,12%), Quintiliano (4 = 12,5%), Quinto Cúrcio (2 = 6,25%), Salústio (1 = 3,12%), Terêncio (13 = 40,62%), Tito Lívio (7 = 21,87%) e Virgílio (15 = 46,87%).
PERNAMBUCO
Datas-limite da documentação: 02 jun. 1769 – 26 nov. 1808.
193requerimentos no total.
51requerimentos positivos (26,42%).
13requerimentos contendo nomes de autores gregos (25,49%): Aristóteles (1 = 1,96%), Esopo (3 = 5,88%), Eurípedes (4 = 7,84%), Longino (2 = 3,92%), Luciano (4 = 7,84%), Píndaro (1 = 1,96%) e Plutarco (2 = 3,92%).
46requerimentos contendo nomes de autores latinos (90,19%): Cícero (22 = 43,14%), Cornélio Nepos (12 = 23,53%), Eutrópio (7 = 13,73%), Fedro (20 = 39,22%), Floro (2 = 3,92%), Horácio (24 = 47,06%), Júlio César (5 = 9,80%), Justino (1 = 1,96%), Juvenal (2 = 3,92%), Ovídio (10 = 19,61%), Propércio (1 = 1,96%), Quintiliano (22 = 43,13%), Quinto Cúrcio (4 = 7,84%), Salústio (11 = 21,57%), Sêneca (1 = 1,96%), Suetônio (4 = 7,84%), Tácito (2 = 3,92%), Terêncio (11 = 21,57%), Tito Lívio (1 = 1,96%), Veleio Patérculo (1 = 1,96%), Virgílio (18 = 35,29%).
RIO DE JANEIRO
Datas-limite da documentação: 10 dez. 1769 – 23 dez. 1826.
867requerimentos no total.
227requerimentos positivos (26,18%).
71requerimentos contendo nomes de autores gregos (31,27%): Anacreonte (2 = 0,88%), Aristóteles (1 = 0,44%), Bíon (1 = 0,44%), Demóstentes (1 = 0,44%), Epicteto (2 = 0,88%), Esopo (24 = 10,57%), Euclides (8 = 3,52%), Eurípedes (4 = 1,76%), Heródoto (1 = 0,44%), Hesíodo (1 = 0,44%), Homero (10 = 4,41%), Longino (6 = 2,64%), Luciano (6 = 2,64%), Mosco (1 = 0,44%), Píndaro (5 = 2,20%), Platão (4 = 1,76%), Plutarco (9 = 3,96%), Políbio (1 = 0,44%), Sófocles (2 = 0,88%), Teócrito (1 = 0,44%), Teofrasto (1 = 0,44%), Tucídides (1 = 0,44%).
196requerimentos contendo nomes de autores latinos (86,34%): Catão (1 = 0,44%), Cícero (67 = 29,52%), Cipriano (1 = 0,44%), Cornélio Nepos (11 = 4,85%), Eutrópio (13 = 5,73%), Fedro (26 = 11,45%), Floro (2 = 0,88%), Horácio (84 = 37%), Júlio César (2 = 0,88%), Justiniano (1 = 0,44%), Justino (1 = 0,44%), Juvenal (3 = 1,32%), Lucano (2 = 0,88%), Lucrécio (1 = 0,44%), Ovídio (70 = 30,84%), Pérsio (1 = 0,44%), Plauto (3 = 1,32%), Plínio (7 = 3,08%), Quintiliano (41 = 18,06%), Quinto Cúrcio (5 = 2,20%), Salústio (5 = 2,20%), Sulpício (1 = 0,44%), Sêneca (1 = 0,44%), Suetônio (7 = 3,08%), Tácito (2 = 0,88%), Terêncio (16 = 7,05%), Tertuliano (1 = 0,44%), Tito Lívio (18 = 7,93%), Virgílio (67 = 29,52%).
Considerações finais
Embora nossa pesquisa ainda seja incipiente, é possível, a partir dos dados coletados, tecermos algumas considerações finais. No entanto, ratificamos que a busca por informações adicionais, especialmente dos catálogos de bibliotecas particulares e dos requerimentos de envio de livros para os demais estados – documentos disponíveis apenas para pesquisa presencial no Arquivo Nacional da Torre do Tombo – será essencial para uma compreensão mais abrangente da difusão de autores gregos e latinos no Brasil colonial. Futuras análises e interpretações desses dados permitirão uma exploração mais profunda das questões relacionadas à materialidade do livro, às práticas de leitura e às dinâmicas sociais e culturais que moldaram a recepção dos autores gregos e latinos no contexto brasileiro colonial.
Feitas as devidas ressalvas, iniciamos nossas considerações finais com a constatação de que, no total dos cinco estados, há a predominância expressiva de autores latinos em detrimento dos gregos:
Bahia: 29 requerimentos contendo nomes de autores gregos (14%) X 194 requerimentos contendo nomes de autores latinos (97%).
Maranhão: 22 requerimentos contendo nomes de autores gregos (32,35%) X 57 requerimentos contendo nomes de autores latinos (83,82%).
Pará: 4 requerimentos contendo nomes de autores gregos (12%) X 30 requerimentos contendo nomes de autores latinos (93,75%).
Pernambuco: 13 requerimentos contendo nomes de autores gregos (25,49%) X 46 requerimentos contendo nomes de autores latinos (90,19%).
Rio de Janeiro: 71 requerimentos contendo nomes de autores gregos (31,27%) X 196 requerimentos contendo nomes de autores latinos (86,34%).
Entretanto, a comparação de resultados entre o total dos estados e cada um deles em particular revela nuances importantes. As diferenças observadas nos requerimentos de envio de livros indicam variações regionais significativas que podem refletir particularidades socioeconômicas, educacionais e culturais de cada localidade. No total dos cinco estados, apenas 24,09% dos requerimentos trazem nomes de autores gregos, enquanto 90,64% mencionam autores latinos, uma diferença de 66 pontos percentuais. Essa diferença, porém, fica mais ou menos acentuada, a depender do estado:
Bahia: 83 pontos percentuais.
Pará: 81,75 pontos percentuais
Pernambuco: 64 pontos percentuais.
Rio de Janeiro: 55 pontos percentuais.
Maranhão: 51,47 pontos percentuais.
Fenômeno análogo verifica-se na comparação entre resultados de percentuais de autores, tanto gregos quanto latinos, do total dos cinco estados e de cada estado em particular. À guisa de exemplo, os cinco autores gregos mais mencionados em requerimentos positivos no total dos cinco estados são: 1) Esopo (8,49%), 2) Homero (4,68%), 3) Euclides (2,43%), 4) Luciano (2,08%) e 5) Longino (2,08%). No entanto, observados os resultados de cada estado, não apenas essa ordem se modifica, bem como alguns nomes de autor se ausentam.
Esopo: 1a. posição no total dos cinco estados, no Maranhão, Pará e Rio de Janeiro; 2a. na Bahia; 3a. em Pernambuco.
Homero: 1a. posição na Bahia; 2a. no total dos cinco estados e no Rio de Janeiro; ausente no Maranhão, Pará e Pernambuco.
Euclides: 2a. posição no Maranhão; 3a. posição no total dos cinco estados; 4a. no Rio de Janeiro; 11a. na Bahia; ausente no Pará e Pernambuco.
Luciano: 2a. posição em Pernambuco; 4a. no total dos cinco estados; 5a. no Maranhão e Rio de Janeiro; 11a. na Bahia; ausente no Pará.
Longino: 3a. posição na Bahia; 4a. no total dos cinco estados e em Pernambuco; 5a. no Rio de Janeiro; ausente no Maranhão e Pará.
Eurípedes: 1a. posição em Pernambuco; 4a. na Bahia; 5a. no total dos cinco estados; 7a. no Rio de Janeiro; ausente no Maranhão e Pará.
Tal fenômeno ocorre também com os autores latinos. No total dos cinco estados, os primeiros cinco autores mais mencionados em requerimentos positivos são: 1) Horácio (44,37%), 2) Cícero (43,33%), 3) Virgílio (38,99%), 4) Ovídio (31,89%) e 5) Fedro (24,09%). Comparados esses resultados com os de cada estado em particular:
Horácio: 1a. posição no total dos cinco estados, em Pernambuco e Rio de Janeiro; 2a. na Bahia, Maranhão e Pará.
Cícero: 1a. posição na Bahia e Pará; 2a. no total dos cinco estados e em Pernambuco; 3a. no Maranhão e Rio de Janeiro.
Virgílio: 1a. posição no Maranhão; 3a. no total dos cinco estados, na Bahia e Pará; 4a. posição no Rio de Janeiro; 5a. em Pernambuco.
Ovídio: 2a. posição no Rio de Janeiro; 4a. no total dos cinco estados e no Maranhão; 5a. na Bahia; 9a. em Pernambuco; ausente no Pará.
Fedro: 4a. posição em Pernambuco; 5a. posição no total dos cinco estados e no Maranhão; 6a. no Rio de Janeiro e Pará; 7a. na Bahia.
Outro fenômeno que merece destaque é o fato de que alguns nomes de autores gregos e latinos ocorrem uma única vez na documentação. Entre os gregos, encontram-se nessa situação: Bíon, Dioniso de Helicarnasso, Ésquines, Heródoto, Hesíodo, Hipócrates, Jâmblico, Licurgo, Lysias, Mosco, Políbio, Safo, Teofrasto, Tucídides, Xenofonte. Com relação aos latinos, mencionamos: Acílio Severo, Apuleio, Ausônio, Cipriano, Cláudio Eliano, Columela, Flávio Josefo, Frontino, Gaio Júlio Solino, Juvenco, Manílio, Paládio, panegiristas, Septímio Aurélio, Tertuliano, Varrão e Valério Flaco. Esses nomes aparecem, em geral, em requerimentos de pessoas que pedem autorização para transportar suas bibliotecas particulares para o Brasil, a exemplo do professor de geometria Antonio Ferreira França e do padre Francisco Agostinho Gomes, que saíram de Portugal em 1799.
Em síntese, a observância desses primeiros fenômenos mais evidentes prima facie já nos revela um panorama complexo de difusão de autores gregos e latinos no Brasil colonial. Se, por um lado, a interpretação dos dados deverá levar em consideração o contexto histórico-cultural-educacional do Brasil no período compreendido pela documentação, por outro, não poderá negligenciar o contexto de cada localidade em particular e as pessoas envolvidas nos transportes dos livros, uma vez que a presença do nome de determinados autores nos requerimentos pode estar relacionada a gostos, ideologias, atuação profissional ou demais fatores pessoais. Em outras palavras, a documentação até agora observada nos alerta para a necessidade de estarmos sempre atentos aos agentes da difusão dos autores em tela e às peculiaridades de cada localidade do Brasil, a fim de evitarmos interpretações generalizantes baseadas somente em ideais e legislação relativas às instituições educacionais da época.
Referencias
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Notas