Dossiê Temático: LEC-UFF - Classical Studies Seminar & Lecture Series

Apresentação: Dossiê LEC-UFF Classical Studies Seminar & Lecture Series

Beethoven Alvarez
Universidade Federal Fluminense, Brasil
Renata Cazarini
Universidade Federal Fluminense, Brasil

Apresentação: Dossiê LEC-UFF Classical Studies Seminar & Lecture Series

Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, vol. 36, pp. 1-3, 2023

Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos

Recepción: 30 Octubre 2023

Aprobación: 01 Noviembre 2023

A pandemia de covid-19, que levou à morte de mais de 700 mil pessoas no Brasil segundo os dados oficiais, ocupou em nossas vidas o longo intervalo superior a três anos entre a declaração formal da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 11 de março de 2020, e a comunicação do seu fim, em 5 de maio de 2023. No mundo, morreram cerca de 20 milhões vitimados pelo vírus.

Nesse período, certamente dos mais trágicos da história, houve também grande mobilização de esforços e se configurou – em diferentes graus, é certo – um cenário colaborativo internacional, notável em várias áreas, inclusive nos Estudos Clássicos. Disso, somos testemunhas os docentes da Universidade Federal Fluminense (UFF), que, agregados a colegas de outras universidades do estado do Rio de Janeiro, constituímos o Laboratório de Estudos Clássicos (LEC).

Logo, em abril de 2020, teve início a série de palestras batizada “LEC-UFF na Quarentena”, encontros semanais on-line com docentes e pesquisadores convidados, que se revelaram sempre dispostos a participar da interlocução transdisciplinar característica de nosso campo de estudos, abrangendo a história e a arqueologia, a filosofia, a literatura e outras artes pautadas pela recepção dos clássicos. Foram realizados 30 encontros até novembro de 2020, o que contribuiu para criar uma comunidade de participantes colaborativos e afetuosos com abrangência nacional e internacional.

Coroou essa iniciativa do LEC o evento on-line “1st International Seminar & Lecture Series”, que reuniu, no segundo semestre de 2021, sete pesquisadores estrangeiros de renome, dos EUA, Inglaterra, Escócia, Nova Zelândia, Itália e Argentina, que ministraram conferências de temas diversos com diferentes abordagens. Algumas dessas palestras estão reunidas neste dossiê, um modesto documento da solidariedade que se propagou durante o triênio pandêmico, ainda que os artigos não tratem especificamente das crises sanitárias ocorridas na Antiguidade – eles abordam a comédia romana e a tragédia grega, a poesia lírica latina e a recepção dos clássicos no mundo de hoje.

Timothy J. Moore, John and Penelope Biggs Distinguished Professor of Classics da Washington University in St. Louis, distinto e renomado pesquisador que há quase 30 anos se dedica a estudar os teatros grego e romano, os metros dramáticos e a música antiga, contribui com este dossiê com inovadoras ideias sobre a marcante presença da dança na comédia romana. Em “A comédia romana e a dança final”, partindo da análise de variadas passagens, entre outras peças, de Persa, Pseudolus e Stichus, de Plauto, em que aparecem referências explícitas ao ato de dançar, o professor estadunidense argumenta que muito provavelmente os dramaturgos cômicos romanos fizeram quase sempre questão de incluir uma dança especialmente elaborada num momento significativo no final ou perto do final das suas peças. O texto em inglês encontra-se impresso no capítulo “Roman Comedy and the Final Dance” do livro Aspects of Roman Dance Culture: Religious Cults, Theatrical Entertainments, Metaphorical Appropriations, organizado por Karin Schlapbach (Franz Steiner Verlag, 2022, p. 159-78), e aqui se publica agora sua tradução em português realizada por Beethoven Alvarez, Gabriela Santos e Renan Rodriguez.

Stephen Harrison, Senior Research Fellow in Classics no Corpus Christi College, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, apresentou no evento a conferência Lyric and Tragedy in Horace Odes 2.1, que será ainda publicada em inglês e que, neste dossiê, já aparece na competente tradução de Fábio Paifer Cairolli, membro do LEC-UFF e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tendo em vista a obra do historiador e poeta trágico Caio Asínio Polião, Harrison nos provoca a perscrutar na ode do poeta Horácio tópicos estabelecidos da tragédia de fins da época republicana.

Henry Stead, Senior Lecture da University of St Andrews, estudioso de Recepção Clássica com especial interesse na recepção da cultura grega e romana entre as classes trabalhadoras britânicas do final do século XVIII ao século XX, desenterra a história de recepção dos clássicos entre trabalhadores britânicos das minas do início do século XX. O texto, publicado em inglês em Classics in Extremis: The Edges of Classical Reception, organizado por Edmund Richardson (Bloomsbury, 2018, p. 136-56), e aqui traduzido por uma equipe de tradutores do LEC-UFF (Beethoven Alvarez, Heloize Fortunato, Bruna Castro da Silva e Pedro Lopes), faz parte de um projeto maior que planeja “provocar uma mudança na percepção da história dos estudos clássicos britânicos, afastando-se de uma tradição conservadora de elitismo institucionalizado em direção a uma história mais esclarecedora de práticas culturais amplamente inclusivas e inspirada criatividade” (Stead; Hall, p. 19). Embora seja um estudo de caso distante, o encontro dos textos greco-romanos e os poemas de mineradores britânicos nos comunica, em diálogo crítico, a dura e confinada experiência vivida no extremo subterrâneo para aqueles que habitam o mundo acima.

Lidia Gambon, professora de Literatura Grega na Universidad Nacional del Sur, na Argentina, colabora com o texto inédito “Cuerpo y corporeidad en la tragedia griega: Hipólito de Eurípides”, apresentado na sua língua original. Partindo de um tratamento denso da fisicalidade no teatro, em particular do “corpo e corporeidade na tragédia grega”, Gambon argumenta como Eurípides garante protagonismo ao corpo feminino, especificamente da personagem Fedra, na peça Hipólito.

Contamos ainda com resenha do livro que exemplifica magistralmente a mais atual abordagem de recepção dos clássicos, a que adota uma perspectiva interseccional: Presença de Antígona: o poder subversivo dos mitos, de autoria da professora da Universidade da Califórnia Helen Morales, traduzido por Angela Lobo de Andrade (Rocco, 2021). Na resenha, Maria Fernanda Gárbero, docente na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e membra ativa do LEC-UFF, nos lembra que “Antígona segue entre nós porque há injustiças que não nos deixam esquecer que ainda há muito por que lutar”.

Agradecemos a todas, todes e todos que colaboraram para o sucesso dos encontros on-line durante o período de isolamento social decorrente da pandemia da covid-19. Agradecemos a quem se propôs a registrar por escrito agora as falas que, então, haviam animado nossos espíritos em um momento tão desalentador, aos que nos ofertaram textos inéditos para este dossiê e aos respectivos tradutores pelo empenho. Agradecemos à equipe da Classica pela oportunidade de divulgar ideias tão estimulantes que circulam no âmbito internacional.

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