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Mito, animalização e antropomorfização das plantas: continuidade poética na literatura agrária latina
Myth, animalization, and anthropomorphization of plants: poetic continuity in latin agrarian literature
Mito, animalização e antropomorfização das plantas: continuidade poética na literatura agrária latina
Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, vol. 36, pp. 1-18, 2023
Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos
Recepción: 19 Febrero 2023
Aprobación: 05 Junio 2023
Resumo: Neste artigo, desejamos examinar três partes de obras pertencentes à literatura agrária latina. Essas obras são o canto II das Geórgicas de Virgílio, o livro X do De re rustica de Columela e o livro XV de Opus agriculturae de Rutílio Paládio. De fato, esses autores, retrospectivamente considerados, não apenas citam uns aos outros, mas ainda adotam procedimentos compositivos semelhantes. Em geral, as partes das obras de Virgílio, Columela e Paládio que comentaremos são poéticas e concedem vivacidade a temas botânicos, notoriamente, por meio de reiterados empregos do mito, da animalização ou da atribuição de “humanidade” às plantas. Então, tecem uma rede em que técnicas de escrita similares não se dão de forma isolada, mas coexistem dentro de uma tradição.
Palavras-chave: Literatura agrária latina, mito, metonímia, animalização, prosopopeia, tradição.
Abstract: In this article, we will look at three sections of works from Latin agrarian literature. These works are book II of Virgil’s Georgics, book X of Columella’s De re rustica, and book XV of Rutilius Palladius’ Opus agriculturae. In fact, when examined retrospectively, these authors are not only quoting each other, but also using similar compositional techniques. In general, the sections of Virgil’s, Columella’s, and Palladius’ works on which we will comment are poetic and give vivacity to botanical themes, most notably through the use of myth, animalization, or attributing “human features” to plants. As a result, they spin a web in which similar writing techniques coexist within a tradition rather than in isolation.
Keywords: Latin agrarian literature, Myth, Metonymy, Animalization, Prosopopoeia, Tradition.
Introdução: prosseguimento e inter-relações na literatura agrária latina
Tomando os textos da literatura agrária latina como objetos de estudo, duas constatações essenciais se impõem de imediato ao pesquisador. Primeiramente, trata-se de uma zona temática da literatura latina que abrange significativo lapso temporal e razoável número de obras. Basta lembrarmos de que o mais antigo texto conservado das Letras latinas, no quesito da prosa, corresponde ao De agri cultura de Catão, o Velho (234-149 a.C.).
Nesse manual construído de maneira rudimentar quanto à estrutura e com traços arcaizantes no tocante à linguagem em uso pelo autor (Trevizam, 2014, p. 83-9), encontramos o total de 162 capítulos. Esses agregam, após a parte introdutória de defesa da agricultura/do agricultor,1 tópicos tão variados quanto a fabricação do azeite de oliveira (cap. 91 até 103), o oferecimento de receitas para a panificação rústica, talvez com propósitos rituais (cap. 116 até 119), a construção da eira de debulha de grãos (cap. 91 e 129) etc.
Sendo essa obra datada, em sua publicação, de meados do séc. II a.C., os romanos teriam de aguardar o ano aproximado de 37 a.C. para que dispusessem de mais uma obra inserida no âmbito de sua literatura agrária e imbuída de importância para autores subsequentes. Referimo-nos, neste caso, aos três Rerum rusticarum libri que se atribuem a Marco Terêncio Varrão (116-27 a.C.): nesses diálogos sobre as coisas do campo, o polígrafo primeiro trata do cultivo dos grãos e da arboricultura (livro I); depois, da pecuária (livro II); enfim, da uillatica pastio, ou criação de pequenos animais nas cercanias das casas rústicas antigas (livro III).
O poeta Públio Virgílio Marão (70-19 a.C.), por sua vez, teve em Varrão importante referencial para os assuntos ou mesmo para a estrutura de suas Geórgicas (Thomas, 1994, p. 11), publicadas em 29 a.C., constituindo um poema didático dividido em quatro Cantos de extensão variável (respectivamente, com 514, 542, 566 e 566 versos). Diversamente do antecessor, esse representante da literatura agrária latina repartiu os assuntos vegetais das Geórgicas entre os dois primeiros cantos da obra, atribuiu a pecuária ao terceiro e dedicou o quarto não a todos os animais possíveis da uillatica pastio – aves, peixes, roedores –, mas apenas às abelhas.
Caberia a Lúcio Júnio Moderato Columela (4-60 a 70 d.C.), porém, a honra de compor o mais extenso manual agrário que a Antiguidade Clássica nos legou. De fato, ao longo dos doze livros de seu De re rustica, essa personagem de um romano bem relacionado aos altos círculos da Era neroniana2 tratou com detalhes dos principais ramos da economia agrária antiga (cultivo dos campos, arboricultura, pecuária de grandes e pequenos animais, uillatica pastio etc.), sem esquecer-se da agrimensura (livro V), da horticultura (livro X) e dos preceitos ora atinentes ao uillicus, ou “capataz”, ora à uillica, a companheira deste (livros XI e XII).
Por fim, na passagem do séc. IV para o V d.C. (Casas, 1990, p. 8-9), um obscuro autor de rerum rusticarum de nome Rutílio Tauro Emiliano Paládio escreveu a obra Opus agriculturae, com o total de quinze livros. No primeiro, estabelecem-se as bases para a exploração produtiva de um fundus rusticus (“propriedade rural”), com ensinamentos sobre os tipos de terras, o achamento das águas, as edificações do campo etc. Os livros II até XIII descrevem as atividades necessárias, em termos dos cultivos, ao longo dos sucessivos meses do ano, enquanto o livro XIV aborda a medicina veterinária e o XV a técnica dos enxertos arbóreos.
A outra constatação essencial, depreensível por meio da leitura um pouco mais cuidada de obras como as referidas, diz respeito a que elas tecem uma espécie de teia de citações,3 obtenção de dados técnicos e/ou procedimentos compositivos recuperados de um momento a outro. Sabemos, então, que os diálogos varronianos citam o Catão do De agri cultura, entre outros autores pregressos.4 Além da óbvia derivação de conteúdos técnicos de Catão e Varrão em várias passagens, as Geórgicas de Virgílio reatualizam, sobretudo desse último escritor, a própria sequência aproximada dos assuntos rústicos ao longo de seus quatro cantos e um trecho proemial como a invocação aos doze deuses rústicos, no Canto I.5
Sobre as fontes de Columela, o próprio autor revela, em De re rustica, livro I, 1, 7-14, ter conhecimento de abundantes escritores rerum rusticarum anteriores, a exemplo dos gregos Aristóteles de Estagira (séc. IV a.C.) e seu discípulo Teofrasto (séc. IV-III a.C.), do socrático Xenofonte (séc. V-IV a.C.), de Agátocles de Quios (período helenístico) etc.; dos itálicos Sasernas (pai e filho da Etrúria, séc. II-I a.C.), de Gneu Tremélio Escrofa (séc. I a.C.), de Marco Pórcio Catão, de Marco Terêncio Varrão, de Virgílio Marão etc.; de Magão Cartaginês (séc. IV a.C.), autor de extensa obra sobre assuntos rústicos em púnico, a qual o Senado fez traduzir para o latim (Martin, 1971, p. 44).
No que diz respeito ao Opus agriculturae paladiano, Fitch (2013, p. 13) destaca como fontes Columela, para tópicos em nexo com os cereais e a criação de animais; Gargílio Marcial (séc. III d.C.), para o assunto das hortas e árvores frutíferas; o grego Anatólio de Beirute (séc. IV d.C.), para suas receitas de vinhos aromatizados etc. Por outro lado, o mesmo Opus poderia ser definido como espécie de remodelação – resumida, adicionada de outras referências e em forma de calendário anual – do extenso tratado de Columela, por ser esse o agrônomo mais citado nominalmente ao longo da obra inteira.
Especificamente no quesito da teia de semelhanças compositivas entre os vários textos da literatura agrária latina, desejamos comentar, na sequência do artigo, uma espécie de fio condutor a ligar a escrita das Geórgicas (canto II), do livro X do De re rustica de Columela (parte da obra chamada, por vezes, De cultu hortorum)6 e do livro XV de Opus agriculturae. A escolha do corpus não é casual, na medida em que todos os excertos de obras citados se incluem, ou no mínimo se aproximam, dos ditames compositivos da chamada “poesia didática antiga” (Toohey, 1996, p. 4, p. 110ss., p. 176ss.). Eles, ainda, parecem claramente ter-se encadeado a partir de certa deixa dada por Virgílio em Geórgicas, canto IV, v. 147-87 e, contendo assuntos vegetais, sempre agregam referências míticas, animalizações e antropomorfizações de plantas à sua trama poética.
1. O didatismo de Virgílio no Canto II das Geórgicas: mito, animalização e antropomorfização das plantas
As Geórgicas virgilianas, de forma geral, têm sido enquadradas como um todo na tipologia didática da literatura greco-latina. De modo sucinto, gostaríamos de recordar que a primeira obra da Antiguidade a ser vinculada a essa tipologia8 foram Os trabalhos e os dias de Hesíodo de Ascra (sécs. VIII-VII a.C.), nos quais uma voz de magister (“professor”) associável ao poeta instrui ao longo de 828 hexâmetros datílicos um discipulus (“aluno”) em princípios morais e/ou sobre os afazeres do campo.
O poema hesiódico, ademais, já agregava o mito à sua trama, o que ocorria, ali, por meio dos ditos “painéis ilustrativos” (Toohey, 1996, p. 4 e p. 22), trechos de interrupção dos estritos preceitos práticos, amiúde para contar histórias imbuídas de fundo sapiencial (tais como a fábula do falcão e do rouxinol – v. 202-12 –, a lenda de Prometeu e Pandora – v. 42-105 – e o mito das Idades do mundo – v. 106-201). Mutatis mutandis, as Geórgicas adotam os mesmos hexâmetros de Hesíodo, a fim de instruir em superfície nas várias partes das técnicas agrárias, conforme dissemos, com destaque para a cultura das videiras no canto II.
Nesse poema didático de Virgílio, o magister se autonomeia Vergilium (canto IV, v. 563), o discipulus explícito da obra é Maecenas ([“Caio Cílnio] Mecenas”, canto I, v. 2) e encontramos vários painéis ilustrativos ao longo dos sucessivos cantos, sejam eles míticos e narrativos ou não. Assim, os principais trechos afins no canto II da obra virgiliana em pauta são o painel descritivo das Laudes Italiae (“Elogios à Itália”, v. 136-76) e o encomiástico das Laudes ruris (“Elogios ao campo”, v. 458-540).
Mesmo que as referências míticas não sejam privilegiadas nos painéis do canto II das Geórgicas, elas se espalham de mais de uma maneira ao longo desta porção do poema. Um primeiro tipo de ocorrência se dá quando certos itens da produção agrária antiga, tal como a vinha e os grãos,9 são referidos não por seus próprios nomes, mas sim através de divindades que a eles se associam por elos religiosos e/ou lendários:
neu segnes iaceant terrae. Iuuat Ismara Baccho
conserere atque olea magnum uestire Taburnum.10
Bacchus amat collis, Aquilonem et frigora taxi.11
(altera frumentis quoniam fauet, altera Baccho,
densa magis Cereri, rarissima quaeque Lyaeo),12
No primeiro trecho, o poeta opera uma espécie de divisão de culturas por zonas do mundo onde há melhores chances de desenvolver-se com sucesso: então, o Ísmaro, monte da Trácia, é-nos apresentado como área propícia à vinha/“Baco”, sendo a oliveira adaptada aos campos de Taburno, na Itália. O verso de número 113, por sua vez, procede por uma divisão de plantios mais genérica, associando o mesmo “Baco” (= “videira”) ao cultivo em quaisquer colinas, enquanto aos teixos são reservadas as áreas ventosas e frias. Enfim, o derradeiro par de versos apresentado varia os modos de evocar a vinha por meio do uso de “Baco” e do epíteto “Lieu”, cabendo aos grãos da terra a associação com o nome de Ceres.
São menções míticas bastante elementares, as quais evidentemente se enquadram na definição oratória da metonímia,13 ou seja, da substituição de um termo por outro a ele contíguo. Complementarmente a esse procedimento, temos ainda nas Geórgicas os dizeres: “onde a argila é fina e há pedregulho em campos com sarças,/ alegram-se os Paládios bosques da vivaz oliveira”14 (trad. nossa). Desta vez, como o nome da divindade “doadora” da oliveira aos homens, Palas Atena,15 não substitui o da planta, não temos propriamente emprego metonímico, mas antes uso de adjetivo com colorações nobilitadoras e épicas.16
Em outros trechos do canto II das Geórgicas, porém, ocorrem como que pequenos esboços de narrativas míticas em nexo com as plantas. Em v. 325-7, Virgílio retoma o tema do hieròs gámos (“casamento sagrado”), similarmente ao que fora contado por Hesíodo em Teogonia, 136ss.: naquele âmbito, Gaia, a Terra, pare inúmeros seres após a união amorosa com Urano, o Céu (embora ele fosse seu filho). No poema latino em pauta, Aether (“Éter”, v. 325) “desce ao seio da esposa alegre” (coniugis in gremium laetae descendit, v. 326), a própria Terra, e fecunda-a durante a época primaveril, alimentando “todos... os brotos” (omnis... fetus, v. 326-7) com sua seiva.
Também se dá esboço de narrativa mítica no canto II das Geórgicas, v. 454-7, quando Virgílio apresenta um lado menos luminoso do dom das parreiras, ou seja, a embriaguez causada pelo vinho. Nesse contexto, alude-se ao episódio do massacre em que se transformaram as bodas de Pirítoo e Hipodâmia, depois que os Centauros embriagados tentaram raptar a noiva (ou outras damas presentes) e surgiu violenta luta entre eles e os seres humanos, nas festividades do casamento.18
Os aspectos da animalização ou antropomorfização das plantas consistem retoricamente, no mesmo canto II do poema didático de Virgílio, em mais um meio de animar a exposição botânica diante de um público letrado (Toohey, 1996, p. 111ss.). A definição oferecida por Santos (1962, p. 47) para a figura de pensamento identificada com a “prosopopeia”19 poderia recobrir, de maneira aproximada, os efeitos envolvidos nesses casos das Geórgicas e/ou de outras obras agrárias latinas:
Consiste em dar vida e palavra às coisas inanimadas, aos seres abstratos, aos ausentes, aos mortos. Ex.: “Ó Noite, que notícias me trazes do meu amor? Vem apaziguar as minhas mágoas, ó minha fiel companheira!”
Como exemplo de animalização das plantas no canto II das Geórgicas, citamos v. 118-21, nos quais o poeta menciona “bálsamos que gotejam da madeira perfumada” (odorato... sudantia ligno/ balsamaque, v. 118-9), os “bosques dos etíopes, branquejando com lã macia” (nemora Aethiopum molli canentia lana, v. 120) e “como os chineses penteiam velos delicados de folhas” (uelleraque ut foliis depectant tenuia Seres, v. 121).20 Assim, muitos animais manifestam o fenômeno fisiológico do gotejamento de suor; produzir “lãs” – embora o termo também designe o algodão em latim (Paládio, Opus agriculturae, livro XIV, 3, 4) – cabe em princípio a ovelhas, e “velos” ou “pelos” a vários animais, não tanto a folhas.21
Mas é sobretudo quando as árvores deste canto assumem contornos humanos que se aproximam da definição de prosopopeia como “ganho de vida”, ou reação. Isso se dá, inclusive, ao final do trecho constituído pelo canto II das Geórgicas, v. 73-82, quando o poeta afirma: “não é longa a espera, enorme/ árvore foi ao céu com ramos férteis,/ e admira novas folhagens, não os seus frutos”.22 Trata-se, na passagem, de referir com brevidade alguns procedimentos de enxerto arbóreo, com o resultado de que, diante do inusitado da combinação de plantas por tal técnica, uma árvore para a qual se trazem ramos “exóticos” de outra experimenta espanto pelos novos frutos que vê surgir.
Outra ocorrência do tipo se acha no canto II das Geórgicas, v. 362-70, trecho por vezes apontado como da “educação da videira” (Virgil, 2003, p. 117 e p. 298):
Ac dum prima nouis adolescit frondibus aetas,
parcendum teneris, et dum se laetus ad auras
palmes agit laxis per purum immissus habenis,
ipsa acie nondum falcis temptanda, sed uncis
carpendae manibus frondes interque legendae.
nde ubi iam ualidis amplexae stirpibus ulmos
exierint, tum stringe comas, tum bracchia tonde:
ante reformidant ferrum: tum denique dura
xerce imperia et ramos compesce fluentis.23
Vários termos em uso, nesses versos, apontam para uma caracterização, gestos e sentimentos “humanos” da videira em desenvolvimento, tais como adolescit (“amadurece”, v. 362);24amplexae (“tendo abraçado”, v. 367); comas (“comas” ou “cabeleiras”, v. 368); bracchia (“braços”, mas ainda “ramos”, v. 368); reformidant (“temem”, v. 369); por outro lado, laxis... immissus habenis (“livre... com rédeas soltas”, v. 364) e tonde (“tosquia”, v. 368) fazem pensar em traços e em tratamento animal para a planta. Enfim, a imagem geral é como que de grande rebeldia da vinha a partir de certo momento, a qual é forçoso tolher tão logo se manifeste.
Esses pontos de discussão, que em absoluto não esgotam as ocorrências possíveis do mito, da animalização e da antropomorfização das plantas no canto II das Geórgicas, decerto encontram ecos, como veremos, em Columela e Paládio, epígonos de Virgílio na literatura agrária latina.
2. Mito, animalização e antropomorfização das plantas no Livro X do De Re Rustica columeliano e no Livro XV de Opus Agriculturae de Paládio
2a. O Magisterium de Columela no Livro X do De Re Rustica
O autor do De re rustica, ao longo de seu tratado, recorre com alguma frequência a diretas citações das Geórgicas virgilianas,25 com fins de documentar-se do ponto de vista das técnicas agrícolas. É apenas no livro X da mesma obra, porém, que ele se vincula à série dos textos atinentes à literatura agrária latina de um modo compositivo bem mais aproximado do modelo das Geórgicas.
Devemos, assim, esclarecer que grosso modo o De re rustica corresponde aos padrões estruturantes de um tratado técnico, ou seja, de uma obra em prosa sistematicamente composta por um especialista e lida com propósitos de (auto)instrução pelo público (Von Albrecht, 1996, p. 21). Tais obras, que na origem remontam à tradição grega de textos como os tratados aristotélicos sobre assuntos filosófico-científicos, aos de seu aluno Teofrasto – autor, inclusive de um De causis plantarum –, aos escritos médicos do corpus Hippocraticum (séc. V-III a.C.) etc.26 podem apresentar divisões internas em livros, muitas vezes encabeçados por proêmios individuais.
Ocorre, ainda, que o espaço amiúde concedido ao cultivo da forma e do estilo nos tratados (Armendáriz, 1995, p. 32-3) favoreceu, por parte de Columela, dar continuidade poética a um tópico preterido por Virgílio no canto IV das Geórgicas,27 quando esse poeta cessa de falar sobre o cultivo das hortas após o breve painel do Velho corício, espécie de protótipo da autossuficiência e felicidade simples do agricultor (Trevizam, 2010, p. 44-5).
Tem-se entendido que o livro X do De re rustica columeliano, cujo assunto diz respeito justamente à cultura das plantas hortenses – ervas, flores, legumes, pequenos frutos – também dispõe dos requisitos para ser considerado um poema didático (Toohey, 1996, p. 177ss.). Assim, após um breve proêmio em prosa, com a agregação dos elementos convencionais – dedicatória do livro a Públio Silvino, apresentação e justificativa de seu assunto específico –, seguem-se 436 hexâmetros datílicos, nos quais encontramos preceitos sobre a escolha e preparo do local de cultivo (v. 6-34); as culturas primaveris (v. 155-98); os procedimentos necessários em meio ao verão (cuidados contra pestes, plantas a serem escolhidas ou evitadas – v. 311-99); colheitas de frutos no final do estio (v. 400-32).
Além da abordagem mais ou menos sistemática da horticultura, do emprego hexamétrico e de um discipulus textualmente endereçado como alvo dos ensinamentos deste livro – o próprio Silvino –, outros elementos aproximam o De cultu hortorum da tipologia didática da literatura antiga. Assim, existem painéis ilustrativos entremeados aos preceitos agrários28 e, desde o proêmio introdutório, ocorre explícita modelagem da voz textual como aquela de um magister interessado em instruir:
[3] Quare cultus hortorum, quorum iam fructus magis in usu est, diligentius nobis, quam tradidere maiores, praecipiendus est, [...]29
Hortorum quoque te cultus, Siluine, docebo,
atque ea quae quondam spatiis exclusus iniquis,
cum caneret laetas segetes et munera Bacchi,
et te, magna Pales, necnon caelestia mella,
Vergilius nobis post se memoranda reliquit.30
A elaboração poética do livro X dessa obra columeliana é, em si, um tour de force: dessa forma, trabalhando sobre um tema relativamente árido e humilde, o agrônomo atribuiu vivacidade a seus dizeres por meio de “perífrases e digressões, alusões mitológicas e a acumulação de nomes próprios de grande sonoridade. Personificação e descrição [...] ganham agora duas notas especialmente características: dramatismo e colorido”.31
O mito, similarmente ao que observamos no canto II das Geórgicas, aqui não se concentra em narrativas extensas e internas aos painéis ilustrativos, mas ponteia o livro columeliano de número X em várias passagens. Ocorrem, então, referências metonímicas em v. 56 (Phoebus, “Febo”, em vez de “sol”),32 v. 235 (Iaccho, “a Iaco”, outro nome do deus Baco, em vez de “ao vinho”), v. 288 (Latonia Phoebe, “Febe de Latona”, em vez de “lua”), v. 309 (multo madefactus Iaccho, “umedecido em muito Iaco”, em vez de “umedecido em muito vinho”), v. 387 (Bacchoue lagoenam, “ou bilha para Baco”, em vez de “ou bilha para vinho”) etc.
Algum emprego adjetival com colorações míticas surge em v. 29 (Daedaliae... dextrae, “de mão dedálea”),33 v. 121 (Palladiae bacae, “da baga Paládia”), v. 313 (Lernaei... cancri, “do caranguejo... lerneu”)34 etc. Os trechos de emprego mítico que apresentam maior interesse no livro em jogo do tratado de Columela, porém, parecem-nos de longe aqueles nos quais se esboçam narrativas lendárias em vínculo com a origem de certas plantas:
nataque iam ueniant hilaro samsuca Canopo,
et lacrimas imitata tuas, Cinyreia uirgo,
sed melior stactis ponatur Achaica myrrha:
et male damnati maesto qui sanguine surgunt
Aeacii flores [...]35
Ora, as lágrimas da “virgem Cinireia” (= filha de Ciniras) aludem à lenda da metamorfose de Mirra, filha do rei de Chipre, no arbusto de mesmo nome, depois que ela se envolveu em amores incestuosos com o pai (Ovídio, Metamorfoses, canto X, v. 298-502); neste caso, a resina que goteja da planta remeteria ao choro da moça, depois de descoberta e castigada pelos deuses. A espécie vegetal advinda do derramamento de sangue de Ájax, após seu suicídio por não conseguir ganhar para si, em disputa contra Odisseu, as armas de Aquiles morto é o jacinto (Ovídio, Metamorfoses, canto XIII, v. 394-8).
Os pontos em que nos parece haver a animalização das plantas hortenses, no livro X do De re rustica, correspondem àqueles abaixo, por motivos óbvios:
Tum modo dependens trichilis, modo more chelydri
sole sub aestiuo gelidas per graminis umbras
intortus cucumis praegnansque cucurbita serpit.36
Liuidus at cucumis, grauida qui nascitur aluo,
hirtus, et ut coluber nodoso gramine tectus
uentre cubat flexo, semper collectus in orbem,
noxius exacuit morbos aestatis iniquae.37
At qui sub trichila manantem repit ad undam,
labentemque sequens nimium tenuatur amore,
candidus, effetae tremebundior ubere porcae,
mollior infuso calathis modo lacte gelato,
dulcis erit [...]38
Note-se, ainda, que a ideia do emagrecimento do pepino “por amor” (v. 395), como se ele estivesse apaixonado pela água corrente que segue, antropomorfiza essa planta, em complementaridade de efeito a trechos como v. 101-2 (nos quais a violeta se diz “empalidecer no chão” – pallet humi –, em contraste cromático com a rosa “cheia de pudor” – plena pudoris –, por “ruborizarem” suas pétalas); v. 179 (no qual o poeta deseja que a lactuca, ou “alface”, “se apresse” – properet – em vir à horta, sendo planta tão benéfica para a inapetência) etc.
2b. O Magisterium de Paládio no Livro XV de Opus Agriculturae
Por alguns motivos específicos, o livro XV de Opus agriculturae paladiano é a (parte de) obra que mais se diferencia das contribuições comentadas antes, atinentes às lavras de Virgílio e Columela. Antes, porém, de apontar tais diferenças, lembramos que, assim como o De re rustica, Opus agriculturae geralmente adota a estrutura de um tratado prosístico. Neste caso, Paládio seguiu o procedimento, conforme referimos en passant, de distribuir a maior parte dos preceitos agrícolas de sua obra sob a forma de um calendário anual (correspondendo o livro II aos afazeres de janeiro, o livro III aos de fevereiro e assim sucessivamente, até o livro XIII – afazeres de dezembro).39
Seu estilo, ao longo das partes em prosa do tratado – livros I-XIV –, é entendido como algo, embora gramaticalmente correto (Cartelle, 2007, p. 798), mais sóbrio que o padrão de escrita quase “ciceroniano” de Columela:
Plínio o Velho e Paládio criticarão – com uma alusão velada a Columela – o uso de um estilo elaborado quando o assunto e o destinatário da obra exigem uma exposição simples; e Cassiodoro, no limiar da Idade Média, recomendará a seus monges analfabetos a clareza absoluta (planissima lucidatio) de Paládio, diante de um Columela difícil, mais adequado para pessoas cultas do que para os ignorantes.40
Se, pela definição da Retórica a Herênio (IV, 11), o chamado “estilo tênue” (genus humile/attenuatum) diz respeito a um emprego da linguagem “rebaixado até o uso mais corrente do falar correto” (quae demissa est usque ad usitatissimam puri consuetudinem sermonis), a parcimônia expressiva de Opus agriculturae tende a aproximar-se dele. (Trevizam, 2022, p. 19)
Quando se consideram, especificamente, os traços do livro XV de Opus agriculturae – por vezes dito De insitione, ou “Sobre o enxerto” –, também é possível notar que ele não se enquadra, em tudo, nos moldes de um estrito poema didático. Assim, em sua pequeníssima extensão – pois contém, após breve proêmio em prosa com a dedicatória do livro a um obscuro Pasifilo,41 meros 170 versos –, apenas se delineiam superficialmente alguns preceitos sobre a técnica do enxerto arbóreo,42 com destaque para dizer quais espécies de plantas podem ou não ser combinadas através dela (pereira com amendoeira e nespereira, figueira com amoreira etc.).
A voz professoral e única, presente na parte constituída pelos oitenta e cinco dísticos elegíacos (não os hexâmetros datílicos da tradição didática!)43 do livro De insitione, ademais, não enfatiza tanto a figura de um discipulus que seria, em tese, Pasifilo. Esse último, com efeito, insere-se muito discretamente no texto, por meio de um único vocativo do nome próprio (Pasiphile, “ó Pasifilo”, v. 1), de verbos em segunda pessoa (comendas, dignaris, amas, “recomendas, julgas dignos, amas”, v. 7; colis, “respeitas”, v. 8) e de um pronome possessivo (arbitrio... tuo, “para teu... arbítrio”, v. 10). Também não se encontram, entre esses dísticos, quaisquer passagens alheias à estrita preceituação prática, ou seja, painéis ilustrativos.
Não obstante, a tessitura poética dessa porção específica da obra de Paládio é refinada, nela se encontrando mais de uma ocorrência de alusão ao mito por metonímia (Phyllida, “Fílis”, em vez de “amendoeira”,44 v. 61; thyrsigero... Baccho, “a Baco... porta-tirso”,45 em vez de “à vinha”, v. 87; Phyllis, “Fílis”, v. 149) e usos de determinantes, novamente, míticos (Echionii palmes... Bacchi, “varas de Baco... Equiônio”, v. 45;46Palladii... rami, “ramos... Paládios”, v. 51). O único ponto do De insitione no qual entrevemos algo aproximadamente afim a um esboço de narrativa mítica corresponde ao primeiro dístico abaixo:
DE CERASO.
Inseritur lauro cerasus partuque coacto
tinguit adoptiuus uirginis ora pudor.
Vmbrantes platanos et iniquam robore prunum
conpellit gemmis pingere membra suis
populeasque nouo distinguit munere frondes,
sic blandus spargit brachia cana rubor.47
Trata-se de algo antes sugerido que, propriamente, dito: ocorre que a planta “forçada” a se unir a outra é, neste caso, o loureiro, para o qual os garfos germinativos da cerejeira são trazidos. Se nos lembramos da lenda associada ao surgimento do loureiro segundo Ovídio a conta em Metamorfoses, canto I, v. 525ss., essa espécie resultou da transformação da ninfa Dafne num vegetal, em desesperada tentativa de não ser, também, “forçada” à união sexual com Apolo. Caso se siga essa linha interpretativa, conforme sugerida por Fitch (Palladius, 2013, p. 267 – nota ad locum), resulta mais compreensível o “pudor” que a cerejeira empresta ao loureiro nesse contexto.
Além disso, embora a animalização das plantas seja praticamente apagada neste livro,48 sua antropomorfização abunda; talvez porque, dissemos, sem haver verdadeiro protagonismo do discipulus didático como agente de cultivo em De insitione, as próprias árvores se investem de semelhante papel. Esse efeito é perceptível em v. 146-7 transcritos há pouco, na medida em que a cerejeira – como se não necessitasse de ser auxiliada pelo agricultor – se torna ela própria condutora de alguns processos citados: então, “faz” ou “obriga” (compellit, v. 146) outras árvores a “colorirem os membros com suas gemas” e “matiza” (distinguit, v. 147) as “ramagens do choupo”.
Semelhante processo de prosopopeia aparece, ainda, claramente manifesto na passagem abaixo, indicadora da “boa índole” da pereira doméstica:
DE PIRO.
Germine cana pirus niueos haud inuida flores
commodat et uarium nectit amore nemus.
Nunc rapit hirsutis horrenda sororibus arma
et docet indomitas ponere tela piros.
Nunc teretem pingui producit acumine malum
fraxineasque nouo flectit honore manus.49
De fato, como se assumisse a frente de várias transformações ao ser combinada em enxerto com outras espécies arbóreas, (sem ciúmes) ela “oferece níveas flores” (v. 55-6); “entrelaça variegado bosque” (v. 56); “toma os braços cruéis das irmãs” (v. 57); “ensina (!) pereiras agrestes” (v. 58); “alonga arredonda maçã” (v. 59); “dobra ramos de freixo com nova honra” (v. 60). A generosidade, o amor e a honra, é notório, aparecem como atributos da planta sob destaque positivo, enquanto as pereiras agrestes seriam cruéis (horrenda, v. 57) e “belicosas”, ou portadoras de verdadeiras “armas” (tela, v. 58). Aqui entrevemos sutil defesa do (auto)cultivo e da doçura, como contrapontos da mera crueza do mundo natural.
Finalizamos nosso comentário sucinto sobre o livro XV de Opus agriculturae observando, apesar de não ser fácil apontar diretas citações das Geórgicas, ou de Columela, neste livro,50 que o processo de pospor versos a um proêmio em prosa – conforme se dá em De insitione – evoca estruturalmente o livro X do De re rustica. Por último, assim como Columela retomou temas preteridos por Virgílio no canto IV das Geórgicas, v. 147-8 para compor este seu livro, Paládio retoma e desenvolve, no De insitione, o tema botânico dos enxertos, mal aludido no canto II das Geórgicas, v. 73-82.
3. Conclusão
Da leitura conjunta do canto II das Geórgicas, do livro X do De re rustica e do livro XV de Opus agriculturae deverá ter resultado o entendimento de que seus autores, mesmo os dois tratadistas em “escape” apenas temporário para o âmbito da poesia, não se encontram isolados e/ou alheios a todo um rol de procedimentos compositivos capazes de dotar a própria exposição técnica de maior vivacidade. Tais procedimentos – uso do mito, animalização e antropomorfização das plantas, eventual recurso a proêmios em prosa –, ainda, unem e aproximam Virgílio, Columela e Paládio como representantes de uma mesma tradição.
Confirma-se mais uma vez, assim, a constatação por vezes feita pela crítica de que, no mundo antigo, separar os escritos técnicos dos que hoje diríamos “literários” seria algo artificial e, no limite, impossível, dada a frequente interpenetração entre um e outro domínio naquele âmbito cultural (Carvalho, 2019, p. 30-1). Nesse sentido, as funções retóricas do deleite e do ensinamento convivem harmoniosamente, nos textos da literatura agrária latina que comentamos.
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Notas